terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Bolsonaro e seus filhos estão com água pelo nariz

O republicano Richard Nixon estava por trás da operação de espionagem ao comitê nacional do Partido Democrata no edifício Watergate, em Washington, no início dos anos 1970 e, por isso, foi obrigado a renunciar ao mandato de presidente dos Estados Unidos; o único a fazê-lo até aqui.

Bolsonaro não tem mandato para abrir mão: perdeu-o para Lula ao tentar renová-lo em 2022. Pelos próximos oito anos não poderá ser candidato a nada, uma vez que foi condenado por abuso de poder econômico e político. Só lhe resta ser preso ou mergulhar à espera que a tempestade passe.

Nixon não foi preso porque deixou o cargo ao concluir que essa seria a melhor saída política para ele. Seu sucessor, o vice Gerald Ford, anistiou Nixon, retirando-lhe as devidas responsabilidades legais perante qualquer infração que tivesse cometido. Nixon morreu amargurado.

De certo modo, pelo menos nos Estados Unidos, o chamado “Escândalo Watergate” tornou-se um caso paradigmático de corrupção. No total, cerca de 69 pessoas foram indiciadas, com 48 delas, a maioria integrante do governo Nixon, sendo condenadas.

É cedo, por ora, para especular sobre o número de integrantes do governo Bolsonaro que poderão ser indiciados e condenados. Mas pelo andar da carruagem, ou melhor, do inquérito que apura o “Escândalo da Abin paralela”, esse número não será pequeno.


Durante o governo Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) esteve mais para Agência Brasileira de Intimidação. Sua inteligência foi usada para o mal, não para o bem do Estado de Direito Democrático. A dúvida é se ainda guarda resquícios disso.

Não se fala em Forças Armadas paralelas para distingui-las das oficialmente existentes que apoiaram Bolsonaro em todas as suas investidas para derrubar a democracia, apenas se dividindo na hora de dar o golpe para impedir a posse de Lula. O golpe acabou fracassando.

Não se deveria falar em Abin paralela. Enquanto esteve sob o comando do delegado Alexandre Ramagem, hoje deputado federal eleito pelo PL da dupla Bolsonaro-Waldemar Costa Neto, a Abin espionou adversários e aliados do governo, esses para chantageá-los se fosse necessário.

Bolsonaro nunca escondeu que queria uma Polícia Federal para chamar de sua. Como não pode fazer de Ramagem o diretor-geral da Polícia Federal, fê-lo diretor da Abin, caroneando o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional.

Antes mesmo de Ramagem assumir a Abin, Bolsonaro disse, em reunião ministerial de 22 de abril de 2020, que dispunha de um sistema de inteligência “particular”. E criticou:

“Sistemas de informações: o meu funciona. O meu particular funciona. Os oficiais desinformam. Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”.

Trocou a marcha, apertou o acelerador com o pé e desabafou tresloucado:

“Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa”.

Em 22 de maio do mesmo ano, o segundo dele como presidente, depois que o vídeo da reunião foi tornado público por Celso de Mello, então ministro do Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro correu a se explicar:

“O que é meu serviço de informações particular? É o sargento do batalhão do Bope do Rio de Janeiro, é o capitão do grupo de artilharia lá de Fortaleza, é o policial civil que tá em Manaus, é meu amigo que tá na reserva e me traz informação da fronteira.”

Era tarde. O mais distraído dos deputados federais sabia que algo se movia e que sua vida poderia estar sendo bisbilhotada. Nenhum ministro de tribunal superior sentia-se mais seguro para atender ligações telefônicas, a não ser por WhatsApp.

Na última quarta-feira, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra suspeitos de integrarem o esquema de espionagem da Abin – Ramagem foi um dos alvos. Ontem, o alvo principal foi o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero 3 do pai.

O meu Exército; a minha família; o meu Posto Ipiranga… Como autoridade número um do país, Bolsonaro achou que tudo lhe pertencia, que tudo estava a seu serviço, e que todos lhe deviam obediência. Triste fim. Mereceu. É só aguardar o desfecho.

Ao contrário de Nixon, não será anistiado.

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