"A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e, quando existe a morte, não existimos mais." A frase, de Epicuro, captura o que há de mais essencial sobre a morte. Seu corolário é que precisamos aproveitar a vida, buscando prazeres, cultivando amizades e tentando sempre agir de forma virtuosa. É preciso também evitar a dor e o sofrimento.
Nesse último item, o Brasil fracassa miseravelmente. No ranking de qualidade de morte da Universidade Duke, o Brasil ocupou, em 2022, a 79ª posição entre os 81 países estudados. O índice é bem ecumênico. O item que mais pesa é o controle da dor, mas também entram acesso a tratamentos, gentileza da equipe de saúde e até conforto espiritual para quem deseja. O Reino Unido, primeiro colocado na lista, obteve 93,1 pontos. O Brasil fez míseros 38,7, ficando à frente apenas do Líbano e do Paraguai.
Não quero, porém, soar mórbido. Depois de três anos de trevas no Ministério da Saúde, o governo Lula está lançando a Política Nacional de Cuidados Paliativos, um programa no qual pretende investir até R$ 851 milhões em 2024 para criar equipes multidisciplinares que disseminariam e dariam suporte técnico ao paliativismo em toda a rede assistencial do país.
Esse é um passo importante, mas a estrutura material não é a única frente de batalha. A questão cultural não é menos significativa. Ainda existe uma boa dose de preconceito desinformado contra o paliativismo. Os próprios pacientes que dele se beneficiariam não raro o veem com um pé atrás, identificando-o a uma espécie de desistência. Na verdade, existem várias fases e modalidades de cuidados paliativos, que idealmente começam com o diagnóstico de uma moléstia grave e vão até o último suspiro, que pode até se dar por outra causa que não a doença original. A meta é sempre poupar sofrimento e ampliar a qualidade de vida, em todas suas dimensões. É Epicuro na veia.
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