sexta-feira, 12 de maio de 2023

Soneto zangado

Há muita gente que não tem um tecto.
Há muito mais gente que não tem pão.
Há quem sobreviva de modo infecto.
Mas há aqueles para quem um milhão

não passa de um troco desprezível.
O quase-tudo está nas mãos de poucos,
que ambicionam o inadmissível,
sem receio de parecerem loucos!

Há uns poucos que espezinham o resto,
o qual é, para eles, invisível.
Ao resto, resta-lhe fraco protesto,

mas só, até onde isso for possível:
a raiva que demais se estrangula
é dinamite que se acumula!

Eugénio Lisboa

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