As notas eram francos suíços e dólares de Singapura. Mas não vinha depositá-las. Vinha perguntar ao banco se ainda estavam em vigor.
Vendo que eu estava comovido, a imaginar colchões em águas-furtadas, a senhora da caixa interrompeu as minhas fantasias e disse que ele ia lá de seis em seis meses, sempre com as mesmas notas, sempre no mesmo envelope, sempre com a mesma pergunta.
Às vezes as metáforas apresentam-se já feitas e a única coisa a fazer é aproveitá-las. Não era este velhote das notas muito parecido com a grande maioria dos meus amigos?
São de esquerda e de direita, mas essa diferença é ilusória, porque aquilo que são, verdadeira e profundamente, são confirmadores.
Quando leem os jornais, tudo o que procuram para ler são confirmações do que pensam. Pode ser pela negativa: os que pensam o contrário demonstram que são adversários desprezíveis e, por conseguinte, confirmam que a única posição racional é a oposta, que obviamente coincide com a posição destes meus amigos.
Os confirmadores gastam o tempo que têm a confirmar que o tempo deles é bem gasto, porque reforça o que já sabem e o que já pensam. Adquirem mais trunfos para lutar contra os confirmadores adversários, que agem e pensam exatamente da mesma maneira, mas num sentido contrário.
É como os carros na Marginal: uns vão para Cascais e outros para Lisboa, mas andam todos de carro e andam todos na Marginal.
Os confirmadores preferem saber pouco, mas ter a certeza do que já sabem, do que saber muito, mas sem ter a certeza se vale alguma coisa o que sabem.
Todos os dias levam as crenças e opiniões ao banco para confirmar que ainda são aceites, partilhadas, legítimas, valiosas.
Tornam-se especialistas da cepa torta, imobilistas capazes das maiores acrobacias para não sair do mesmo sítio.
É quase admirável.
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