sexta-feira, 26 de maio de 2023

O berço do futuro

A proposta de exploração do petróleo na foz do rio Amazonas pode ser um desastre político ou a nascente para um novo conceito de desenvolvimento. Mesmo que os resultados econômicos sejam incertos e poucos benefícios fiquem na região, optar pelo Ibama, a ecologia e o futuro, descontentará aos eleitores da região. A opção pela Petrobras contra a recomendação do Ibama abalará o prestígio da ministra Marina Silva e do presidente Lula no cenário mundial como zeladores da Amazônia, comprometidos com o desenvolvimento sustentável. Não faltarão aqueles que façam a comparação com ministro anterior que defendia “deixar passar a boiada” por cima dos órgãos técnicos relacionados ao meio ambiente.


Esta indecisão ideológica mostra que o governo Lula não está preparado politicamente para enfrentar o dilema entre necessidades presentes e sustentabilidade futura, até porque não há conhecimento científico para saber exatamente o que acontecerá social e ecologicamente, nem conhecimento técnico para evitar os riscos decorrentes. Neste cenário, a decisão deve ser adiada para evitar riscos e aprofundar o debate relacionado à relação entre crescimento, meio ambiente e pobreza.

Nenhum outro país tem, ao mesmo tempo: o desafio de explorar petróleo em um santuário natural, governo comprometido com o respeito à Amazônia e uma massa crítica intelectual para aprofundar este debate que aflige a humanidade: como compatibilizar as necessidades sociais e econômicas do momento com as limitações e os riscos do futuro. Responder perguntas como: justifica deixar a riqueza do petróleo debaixo da terra, com milhões de pessoas pobres caminhando sobre ela? a exploração de petróleo já em marcha no território amazônico reduziu a pobreza da população local? deixou benefícios sociais marcantes para os habitantes das cidades com royalties no litoral carioca? investir centenas de bilhões de reais na exploração do petróleo é a melhor forma de atender às necessidades sociais dos pobres locais? o petróleo será fonte de renda por quantas décadas ainda, antes de seu uso ficar obsoleto, devido às mudanças climáticas e outras fontes de energia? quais as consequências econômicas se o Brasil voltar a ser pária mundial por executar este projeto, sobretudo se ocorrer possível vazamento no oceano?

Estas dúvidas são maiores do que a avaliação do projeto específico na foz do Amazonas. Para o Brasil, a questão é escolher entre o desenvolvimento apenas para o presente ou sustentável no futuro; para o Presidente e a Ministra, saber se desejam os votos locais ou serem os líderes políticos mundiais de um novo rumo para o desenvolvimento. Outros dilemas surgirão como buscar ouro ou construir estradas em terras indígenas; proteger patrimônios culturais ou investir na produção.

Com o adiamento da decisão e a promoção do debate, o atual governo estaria transformando a crise da Foz do Amazonas na Nascente de um novo rumo do desenvolvimento.

Foi uma pena que antes mesmo de promover este debate, políticos locais preferiram vender ilusões para o presente, olhando a próxima eleição. Eles teriam ajudado na reflexão sobre o futuro e no apoio para termos a ministra Marina Silva e o presidente Lula como líderes mundiais de um novo desenvolvimento econômico sustentável e com responsabilidade social: um berço do futuro.

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