quarta-feira, 5 de abril de 2023

Está chegando a hora de Bolsonaro devolver-se à sua insignificância

Na condição inédita e desonrosa de primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a sentar no banco dos réus, Donald Trump é acusado de subornar pessoas para que não revelassem informações que poderiam ter prejudicado suas chances de se eleger em 2020.

Entre os subornados, um porteiro, uma modelo, coelhinha da revista Playboy, e uma atriz de filmes pornográficos. Com as duas, ele manteve casos fora do seu casamento, o que nos Estados Unidos é capaz de destruir candidaturas e reputações.


Bolsonaro, hoje, irá depor à Polícia Federal na condição inédita e igualmente desonrosa de ex-presidente do Brasil acusado de surrupiar presentes milionários ofertados por outro país, e que deveriam ter sido incorporados ao acervo do Estado.

Parte dos presentes ficou retida na Receita Federal do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, porque desembarcou escondida na bagagem de um assessor do almirante Bento Gonçalves, então ministro das Minas e Energia, e não foi declarada.

A outra parte entrou ilegalmente no país na bagagem do próprio ministro, e dela Bolsonaro se apoderou e levou com ele ao fim do seu governo. Mas não ficou satisfeito. Fez tudo para reaver parte dos presentes apreendida pela Receita, tudo menos declará-la.

Esgota-se nesta semana o prazo dado pelo Tribunal Superior Eleitoral para que Bolsonaro se defenda da acusação de conspirar para solapar a democracia. Nenhum outro ex-presidente foi condenado por esse crime. Ele poderá ser também o primeiro.

O Congresso derrubou o presidente Fernando Collor acusando-o de corrupção. Mais tarde, o Supremo Tribunal Federal absolveu-o. O ex-juiz Sérgio Moro prendeu e condenou Lula por corrupção. O Supremo anulou a sentença, Lula foi solto e se elegeu presidente.

Por duas vezes, o presidente Michel Temer foi acusado de corrupção. O Congresso salvou-o de ser processado. No caso do escândalo das joias avaliadas em 18 milhões de reais, Bolsonaro poderá ser enquadrado por peculato e corrupção passiva.

Antigamente, para qualquer pessoa, especialmente para um homem público, virar réu em um processo era algo vergonhoso e talvez mortal. No Japão ainda tem quem se mate para lavar a honra, ou renuncie ao cargo e saia definitivamente de cena.

Trump prende usar sua condição de réu como trunfo para em 2024 vingar-se da derrota que o presidente Joe Biden lhe impôs há dois anos. A legislação americana permite que ele concorra e se eleja de dentro da cadeia, se for o caso. A nossa não permite.

Se condenado por crime contra a democracia, Bolsonaro ficará inelegível por 8 anos. São fartas e convincentes as provas de que ele se empenhou em desacreditar o processo eleitoral brasileiro e que usou a máquina do governo para roubar a reeleição.

Ou você acredita que Anderson Torres, então ministro da Justiça, sem autorização de Bolsonaro, desembarcaria na Bahia às vésperas do segundo turno da eleição passada para armar um esquema que impedisse eleitores petistas de votarem em Lula?

O ministro Gilmar Mendes acha que a “maior contribuição de Bolsonaro [ao país] foi devolver Moro ao nada”. Não foi. Embora justa, é birra de Gilmar com Moro. A maior contribuição de Bolsonaro ao país será ele mesmo devolver-se ao nada.

Sua hora está próxima.

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