O que será?
Note-se que incluímos esse aguardamento na agenda brasileira. Integra mesmo a dinâmica do calendário eleitoral. As entrevistas ao JN. O início da propaganda na TV. O primeiro debate. O 7 de Setembro. O debate final. O 2 de Outubro.
O 7 de Setembro, se grande ou muito grande: balizará, já amanhã à noite, as análises políticas sobre as possibilidades competitivas do presidente candidato, embora eventos como esse, de natureza sectária, alimentem muito mais as perspectivas de Bolsonaro, se afinal vencido, manter-se como o líder reacionário de uma oposição agressiva num Brasil com a economia como legada por Guedes.
Mesmo o governo nada tendo planejado para o 7 de Setembro de 2022, nada senão a necroviagem do coração imperial, nunca saímos do 7 de Setembro de 2021. Bolsonaro nos pauta. Levou a Corte constitucional para a briga de rua.
O país refém de há um ano. Preso à memória de um discurso para o confronto, antirrepublicano: o do mito, eleito por dezenas de milhões, que não consegue governar, minado pelo establishment que o Supremo encarna.
O amanhã: será pior?
Ninguém pode negar que estão postas as condições para o exercício da violência. A física. Refiro-me ao que pode haver no Rio de Janeiro. Menos de um mês até as eleições. Milhares às ruas, muitos armados — armadas também as forças de segurança. Exaltados os ânimos. A palavra resulta. A pregação para o choque é diária. São muitos também os tornados inimigos; os jurados como inimigos. Bolsonaro cultiva a segmentação. É estratégia. Estarão lá os CACs, por exemplo.
Considero que as autoridades locais ainda não olharam com atenção ao que se projeta para Copacabana, especialmente desde que cancelada a parada militar no Centro. Por que foi cancelada? Para quê?
São muitas as camadas de expectativa, para o que pesa a intensificação da atividade militante dos militares, sobretudo a partir da infiltração no TSE e das progressivas demandas — provocadoras de desconfianças — ao tribunal. Terá havido acordo com Alexandre de Moraes? A grande questão: como se comportará Bolsonaro?
É atroz que seja esse o horizonte; que nos tenhamos encurtado tanto. Mas assim é.
Em 2022, aos 200 anos da Independência, soma-se à exploração fetichista da efeméride o fato de estarmos — repito — a menos de um mês das eleições. Há um ano, o golpismo estava em outro tom, acima, mais acirrado. Essa é a leitura otimista. (Teria havido acordo com Moraes? Os tempos são prósperos para os conspirativos.) Prefiro a hipótese de que, sob um 7 de Setembro permanente, tenhamos nos acostumado à barbárie.
Independentemente do caráter golpista das manifestações de amanhã, teremos — isto já está dado — um ato de campanha eleitoral que instrumentalizará órgãos do Estado. No caso, as Forças Armadas. Ostensivo abuso de poder. Algo gravíssimo por si só.
Bolsonaro pode baixar a pressão. Pode, circunstancialmente, desviar sua artilharia a outro inimigo artificial. Pode terceirizar os ataques ao STF para aliados. Tudo é possível. Objetivamente, o que temos: o presidente convidou as Forças para compor, Independência como escada, um lance por sua reeleição — e elas aceitaram.
A grande questão — como se comportará Bolsonaro? — importa menos. (Se não morder amanhã, morderá depois — e sempre.) Importa mais a apreensão. Essa mobilização que tensiona. O presidente, gerador constante de instabilidades, é imprevisível. Imprevisibilidade a que se soma a incerteza sobre a organização do que ocorrerá em Copacabana. Ninguém sabe como será; até onde vão as participações militares. Conjunto de incertezas — de desorganizações — proposital.
Na última sexta, o Ministério Público Federal enviou ao Comando Militar do Leste, ao 1º Distrito Naval e ao 3º Comando Aéreo Regional pedidos de informação sobre que providências tomaram para impedir que o eventos militares em função da Independência se confundam com a atividade político-eleitoral de Bolsonaro. Quais? A Independência está instrumentalizada. A ver a quanto estarão instrumentalizados os militares.
O desenho da coisa, pelos agitadores bolsonaristas, é para que confusão haja mesmo. Ninguém, até agora, delimitou fronteiras. Quer-se bagunça. O presidente desfilará em motociata, desde o Flamengo até palco montado perto do Forte de Copacabana. Óbvio investimento numa fotografia híbrida, de arrastão: a imprevisibilidade forjada induzindo trânsitos que misturem civis e militares no comício de Bolsonaro. Convite fácil ao imponderável.
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