Apesar do lamentável balanço de seu desempenho, Bolsonaro tem dois aliados: o PT ainda hesita em falar para fora dos seus apoiadores tradicionais e os “nem-nem” cujas acusações depredam a imagem do Lula e do PT.
Sem Lula, Bolsonaro não será derrotado, mas sozinho ele não vence a eleição, precisa que os democratas não-petistas subam no seu palanque, para uma vitória no primeiro turno ou para apoiá-lo no segundo. Mas os discursos antipetistas e antilula há meses e os que serão feitos ao longo do primeiro turno tendem a inviabilizar apoio ao Lula. Os discursos “nem-nem” se transformarão em votos nulos, elegendo Bolsonaro.
Para dificultar a situação, os “nem-nens” são empurrados para longe do Lula e do PT, não apenas por preconceitos (ou conceitos) vindos do passado, mas também por falas do ex-presidente que às vezes esquece que é candidato em uma eleição difícil. O Lula assusta eleitores não petistas quando fala em revogar reformas, no lugar de dizer como pode aperfeiçoar a reforma trabalhista, a reforma do ensino médio e a PEC do Teto de Gastos. No lugar do horror a privatização, precisa dizer como fará o Estado servir ao Povo. Assusta também e serve à propaganda de Bolsonaro, quando se assume porta-voz de bandeiras específicas de grupos sindicais, feministas, no lugar de ser porta-voz dos direitos gerais, sem se assumir de um grupo em choque com outros.
Há momentos que o PT e o candidato Lula parecem falar para espelhos dentro de bolhas isoladas, sem levar em conta as mudanças nas últimas décadas: na geopolítica, nas tecnologias, nas percepções dos limites ecológicos ao crescimento, na mudança da pirâmide demográfica, no esgotamento do Estado, na irreversível abertura da economia e da sociedade ao mundo global. E também na importância da educação de base como o vetor do progresso. O PT e Lula precisam entender que o mundo mudou desde meados dos anos 80, quando o PT foi fundado, com o Muro de Berlim em pé, antes da inteligência artificial, da microinformática e da internet. Precisam perceber também que, na política, não há mais bolhas isoladas: a fala de agrado a um grupo, entre paredes fechadas, se espalha para todas as demais bolhas, gerando sorrisos de alegria entre os que estão em frente e ranger de dentes nos que estão ao lado. Diferente de 2002 e 2006, o discurso do Lula em cada grupo não espera para ser divulgado, intermediado por jornalistas: agora ele aparece, simultânea e universalmente.
Se compararmos os dois governos e respectivas personalidades, parece ilógico e impossível Bolsonaro ter mais votos do que Lula. Mas a impossibilidade fica lógica se somarmos os votos do atual presidente aos votos nulos induzidos pelo antipetismo dos “nem-nem” e pelas falas de Lula e PT para dentro de suas bolhas setoriais, corporativas, identitárias, ideológicas.
Não adianta colocar Alckmin na frente do espelho, é preciso romper a bolha e falar para o Brasil e para o futuro, sem nostalgias nem sectarismos. O PT e Lula precisam ler o alerta do Senador Randolfe, neste mesmo jornal Metrópoles, ao dizer que Lula precisa ser plural, como aliás ele tende a ser pessoalmente. E deu provas durante seus dois governos. Caso contrário, pode perder a eleição, inexplicavelmente, para Bolsonaro. Precisam entender que esta derrota será do Braisl, não apenas do Lula e do PT, portanto, a vitória deve ser de todo o Brasil e não apenas dele e do PT. Até porque dificilmente vencerão e certamente não governarão dentro da bolha e falando para o espelho.
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