Um povo muito exigente. Quer comer todos os dias. Pouco importa que praticamente um Chile inteiro – vinte milhões de corpos famélicos – passem mais de vinte e quatro horas sem ter o que comer. Além disso, quase vinte e cinco milhões não sabem como se alimentarão a cada dia. Outros quase setenta e cinco milhões têm a convicção de que estarão, em breve, em situação idêntica.
A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional apurou que mais da metade dos brasileiros padeciam de insegurança alimentar em dezembro de 2020. Alguém se arriscaria a dizer que as coisas melhoraram desde então? Quem é que costuma frequentar supermercado, padaria ou qualquer outro tipo de comércio?
Este país que destrói a sua natureza, que quer construir usinas de carvão, na contramão do mundo civilizado, que multiplica os partidos políticos, que só pensa em eleição e em reeleição, tem uma Escala Brasileira de Segurança Alimentar, que é utilizada pelo IBGE para complementar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – Pnad e Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF. Isso se fez antes do ressurgimento do fantasma da inflação, que penaliza principal e primeiramente a pobreza e a miséria.
Os brasileiros comem pouco e comem mal. Consomem o que é mais barato. Consideram pés de galinha uma iguaria e disputam ossos aos sopapos.
Entre 2014 e setembro de 2021, a inflação subiu quase cinquenta por cento. Mais exatamente, 47,5%. O valor do dólar mais do que dobrou, favorecendo os exportadores de produtos agrícolas. Isso faz com que toda a cadeia de nutrição se altere para piorar a situação dos desvalidos.
Será que o “agro é pop” tem notícias disso? O “milagre brasileiro”, a “salvação da lavoura”, não teria um projeto-piloto de emergência, para impedir que as crianças brasileiras passem fome?
Não há condições de se instituir um “bom prato” em todas as cidades, com as principais lideranças do agronegócio assumindo o compromisso de dar de comer a quem tem fome? É vergonhoso saber que nos “vales verdes e férteis”, onde jorra a produção potencializada com a informatização da lavoura, seres humanos não tenham o mínimo existencial em termos de sobrevivência.
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