Portanto, neste assunto, ninguém pode se fazer de desentendido. “Ah, mas o presidente está blefando”, dirão aqueles sempre dispostos a contemporizar com o inadmissível. Não está. Assim como não blefou durante toda a sua vida pública a respeito dos absurdos que pregou, pelos quais trabalhou, que prometeu em campanha e que tenta, aos trancos e barrancos, implementar na Presidência.
Portanto, essa muleta de se dizer pego de surpresa quando Bolsonaro sair da retórica para a tentativa de ação ninguém poderá usar. Eleitores, empresários e, sobretudo, os agentes com responsabilidades públicas e institucionais.
Vamos, então, escalar o time dos que serão cobrados caso o país viva uma tentativa de ruptura democrática.
Arthur Lira. Até aqui, o presidente da Câmara é aquele que tenta comer tudo o que pode na churrascaria rodízio para fazer valer o que pagou. Sustenta Bolsonaro à custa de lautos nacos da picanha sangrenta do Orçamento. Na lógica de Lira, vale uma crise institucional em nome do poder que o presidente lhe franqueia.
Rodrigo Pacheco. O presidente do Senado se acovardou nos últimos dois dias diante de uma ameaça nítida das Forças Armadas ao Legislativo, um Poder da República. Aos poucos, os militares vão se espalhando na interpretação fake da Constituição segundo a qual têm um certo poder moderador em caso de impasse entre os Poderes. Não têm, e cabe aos chefes do Judiciário e do Legislativo dizer isso em voz alta e clara, sob pena de amanhã terem de se ver diante de algo mais grave que uma nota com saudade dos anos 1960 da parte dos fardados.
Augusto Aras. Preterido para o Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República se recolheu a um silêncio dúbio. Já não se esforça para bajular o presidente, como quando ainda esperava ser contemplado com uma das cadeiras que vagaram no STF, mas também não cumpre seu papel de fiscalizar o Executivo, porque quer ser reconduzido. O risco para Bolsonaro: a decisão sobre a recondução de Aras será, agora, anterior à conclusão da CPI da Covid, que será prorrogada. Quem será o Aras reconduzido e, portanto, não mais devedor de Bolsonaro? A ver.
Luiz Fux. Também soa tímida em excesso a nota de repúdio do presidente do STF diante das tentativas diárias do presidente de desmoralizar a mais alta Corte da Justiça e seus integrantes. As insinuações criminosas de Bolsonaro em relação a Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Edson Fachin, seus alvos preferenciais, deveriam motivar um basta do presidente do Supremo, e não lamentos cheios de dedos e punhos de renda.
General Walter Braga Netto. Espécie de interventor bolsonarista nas Forças Armadas, patrono da inédita troca simultânea de todos os comandantes militares por capricho do presidente, vem seguindo os desígnios que o ocupante de turno do Planalto espera dos militares. Vai com ele até o fim? Até a tentativa verde-amarela da “invasão do Capitólio”? É preciso que as alas das três armas comprometidas com a democracia cobrem sensatez e contenção por parte do comando. E o vice-presidente, general Hamilton Mourão, entra aqui neste verbete: em sua tentativa de dissipar as desconfianças de Bolsonaro para consigo, Mourão calará até quando diante desse festival de absurdos?
É importante que esses homens, todos eles investidos de poderes, mas também de deveres, pela Constituição tenham em mente desde já de que lado da História estarão quando o presidente tentar seu golpe de fancaria, caso se mantenha seu derretimento apontado pelas pesquisas diante das múltiplas falências do regime de descalabros que implementou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário