Trata-se de uma obra densa. A síntese conceitual revela a profundidade da corrupção e sugere que o combate ao deletério fenômeno atenda à múltipla visão da diversidade das causas: políticas, econômicas, sociais, institucionais e culturais.
De logo, alerta para o discurso moralista, retórica populista e bandeira do combate aos fatos visíveis com ênfase nos aspectos jurídico-penais: um apelo simplista e sedutor quando as raízes da corrupção exigem uma agenda reformista ampla e consistente. O enfrentamento da questão, além de permanente, se coloca diante de uma “economia criminal” que permeia o tecido social das nações de modo complexo e sustentada por uma força destruidora a exemplo das estratégias e do aparato tecnológico do narcotráfico.
É um sistema globalizado que resulta de um conluio entre autoridades e criminosos: a máfia do século XXI. O Brasil ultrapassou a era da propina e do pixuleco. No arsenal das armas, a mais eficiente é a solidez da democracia. Somente a força do regime e de suas instituições são capazes de atacar o crime e assegurar a paz social.
Nesta linha de raciocínio, Manuel Castells, respeitável estudioso da dinâmica social da democracia e pioneiro na percepção da “sociedade em rede”, em parceria com Francisco Calderon, lançaram recentemente no Brasil A nova América Latina (Ed. Schwartz – Rio de Janeiro, 2019).
Em entrevista ao Valor Econômico, Castells afirma, a partir de constatações empíricas, “a falta de representatividade dos políticos”, acrescentando que “os movimentos sociais são a defesa contra os retrocessos”. Para medir o aumento da violência e da desigualdade, criaram o índice de desenvolvimento desumano
Sobre o nosso país, foi contundente: “O Brasil de Bolsonaro já não é uma democracia […] a corrupção em grande escala, exemplificada pela Odebrecht, condicionou a política brasileira. Parte do Congresso é uma coleção de caciques regionais e grupos de pressão privada […] Tudo isso não é democracia porque a democracia é mais do que votar a cada quatro anos em eleições condicionadas pelo dinheiro e poderes ocultos”.
Porém, esperançoso, diz: “Há vida depois de Bolsonaro”.
Que prevaleça a mediania aristotélica: “virtude está no meio, os extremos são os vícios”.
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