A NÃO cobertura do 29M por grande parte da grande imprensa dá a dimensão da gravidade do que estamos vivendo, o que sabemos bem, e dá a dimensão da complexidade do que estamos vivendo, para além do que seria possível imaginar. Os grandes jornais acham que podem ignorar a realidade e continuar se apresentando como imprensa. Podemos pensar que, além de todos os significados, não aprenderam nada com a ditadura militar. Daqui uns 30 anos vão vir com explicações, arrependimentos e mea culpas. Mas é muito pior do que isso. Fizeram uma escolha – e fizeram essa escolha mesmo sabendo o que ela custa para um jornal. Sacrificaram o jornalismo em nome dessa escolha. Se alguém ainda não tinha entendido, agora entendeu.
Significa muito o que aconteceu nessas capas. Vai render muitos livros e teses acadêmicas. Mas, agora, neste momento, precisamos lutar pela vida. E já entendemos que uma parcela significativa da grande imprensa já começou a sacrificar os fatos e a ocultar a realidade, mesmo que a realidade sejam centenas de milhares de brasileiras e brasileiros na ruas.
Um jornal mostra se merece esse nome nos momentos cruciais vividos pela sociedade, aqueles em que a imprensa é mais necessária do que nunca à democracia. A ampla crise vivida pelo Brasil poderia ser o momento em que a imprensa mostraria o quanto é necessária e insubstituível, como tem acontecido em outros países, em que a imprensa voltou a ser valorizada como agente fundamental para o restabelecimento da verdade. O que testemunhamos com essas capas é uma traição a todos os princípios do jornalismo. Essas capas são uma mentira. Felizmente, esses não são os únicos jornais do Brasil. Leiam (escutem e assistam) quem tem respeito pela nossa inteligência, quem tem respeito pelo jornalismo, quem tem respeito pelos fatos.
Sinto nojo. Mas também uma enorme tristeza.
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