Acreditava piamente que “dormia nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”, os versos iniciais dessa linda música, eram a mais pura verdade.
Vem o Collor e foi aquele horror. Vem o Fernando Henrique, excelente Ministro e depois Presidente da República e, em seu primeiro mandato, renova minha fé. Já no segundo, começa tudo a desandar. Nas eleições seguintes, ouço pessoas a quem respeitava, e outras a quem respeito muito ainda hoje, a declarar o voto abertamente: Lula.
Revi minha posição e percebi que o que me colocava contra o Lula era um preconceito. Julgava que sendo alguém sem instrução formal, ele não saberia governar o Brasil. Mas me convenci que isso, no fundo, era uma bênção, pois ele, mais do que qualquer outro, iria compreender e encaminhar o Brasil de modo a afastar de vez as injustiças e a fazer de nosso povo um povo finalmente feliz, educado, saudável, bem cuidado.
Entretanto, eu não contava com um dos versos mais terríveis de “Vai Passar”: “palmas pra ala dos barões famintos”. E eles chegaram, os barões, famintos, sedentos, alucinadamente ansiosos para recuperar o tempo perdido. O tempo deles, e não o tempo do Brasil. A fome e a sede dos senhores barões, e não a fome e a sede dos brasileiros. E começou a mais tremenda das desilusões.
Estamos vendo, nestes dias, fatos quase que inacreditáveis: as filas de gente sofrendo, horas a fio, nos hospitais; a dor, o sofrimento de uma nação. E o governo querendo convencer o mundo que o Brasil venceu a pandemia.
Do presidente, nem falo. Esse vive em outra galáxia: no mundo dos palanques. Recorro outra vez aos versos de Chico Buarque: “O estandarte do sanatório geral vai passar”.
Está passando, Chico. E repara que os homens que o carregam são, em sua maioria, aqueles filhos que “erravam cegos pelo continente, levando pedras feito penitentes”. Quem poderia imaginar que ao assumir o controle do Brasil, esses penitentes fossem aceitar de vez sua condição de membros do sanatório geral?
O sanatório geral que está a pleno vapor. Um dossier montado no seio do Governo Federal assusta muita gente. Pretende servir como arma de defesa caso a oposição adquira força para mostrar à pátria ainda tão distraída, que as tenebrosas transações continuam. O sanatório se agita. Como? Quem vai entregar o ouro ao bandido? Você sabe?
Será o presidente? Ele que tem uma imensa desinibição para falar besteira? Ainda mais se tratando de uma pessoa que passou quase 30 anos perseguindo o objetivo de chegar à Presidência da República? Não lhe faltaram condições para estudar mas o que lhe sobrou foi preguiça, desinteresse, malandragem e esperteza. E ainda por cima só pensa numa coisa: na reeleição!
Pobre Brasil! E que ninguém se iluda. A força do sanatório geral é imensa. Tudo vai continuar como dantes neste quartel d’Abrantes. Infelizmente.
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