Oportunistas já se aproveitam da confusão da pandemia para lucrar e confirmar a pior expectativa de que o capitalismo amoral é capaz, segundo a Naomi. Está em curso a maior intervenção do Estado na vida das nações e das pessoas desde a Segunda Guerra Mundial, mas a velha briga entre dirigismo econômico e mercado persiste, enquanto contam os mortos. O mundo que emergirá do choque que estamos sofrendo será um mundo purgado pelo horror, e melhor, ou condenado pelo amoralismo para sempre.
Se estamos a caminho de uma escolha definidora do que seremos pós-tragédia viral, talvez não seja ingenuidade demais discordar da Naomi e esperar que no fim de tudo isto surja um mundo menos desigual e mais, na falta de outra palavra, decente. Para participar da velha briga, que continuará quando o coronavírus for apenas uma má memória, entre estatismo e livre mercado, traga-se de volta o John Maynard Keynes. Se for difícil transportá-lo fisicamente — afinal, o homem está morto desde 1948 —, recuperem suas ideias, e as escolhas que ele pregou para combater o capitalismo sem-vergonha.
Keynes foi o cara que defendia um Estado forte a serviço do bem geral e a intervenção do Estado na economia para humanizá-la. A austeridade “made in” Chicago que hoje norteia a maioria das economias mundiais não teria prevalecido se o keynesianismo tivesse se imposto ao liberalismo, quando ainda dava.
Mas enfim, que mundo nos espera quando passar o horror? Acho que será melhor do que este. Disse ele, ingenuamente.
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