Isso quer dizer que Bolsonaro está prestes a deixar o cargo? Não. Soam infantis e demagógicas declarações que se multiplicam, como a da deputada estadual Janaína Paschoal, com sugestões para que as autoridades da República convençam o presidente a renunciar. Ou como a do jurista Miguel Reale Junior, para quem Bolsonaro deveria ser examinado por uma junta médica para atestar sua loucura. No caso específico desses dois, as afirmações talvez estejam mais para um sinal de constrangimento por terem patrocinado o impeachment de uma presidente da República sob o pretexto de ridículas “pedaladas fiscais” do que para a realidade.
Os últimos dias vêm mostrando que o establishment político e econômico, com seu comportamento volúvel, já quer se livrar de Bolsonaro. Só que não é fácil assim. Janaína deve saber muito bem que ele não é do tipo que ouve conselhos racionais, muito menos para renunciar ao próprio cargo. O ex-capitão é do tipo que vai se entrincheirar no Planalto com os filhos e resistir enquanto puder.
A sugestão da junta médica não pode ser levada a sério. Os psiquiatras examinam Bolsonaro, constatam que ele sofre de um desequilíbrio mental, fazem laudo para o psicopata. E aí? Quem vai declarar o impedimento constitucional com base na loucura?
Vai sobrar para o Congresso, e no modelito de sempre, o impeachment. Só que não, há, no curto prazo, condições políticas para tocar um processo de impedimento do presidente da República. Antes de tudo, porque não se faz isso em meio a uma grave pandemia como a do coronavírus, que vai se arrastar por meses. Em segundo lugar, porque ninguém faz impeachment em ano eleitoral, e teremos o pleito municipal em outubro.
Acima de tudo, está a insegurança do establishment e de seu braço político, o Congresso, quanto à conveniência do impeachment. Para alguns, sobretudo na oposição, a sangria de Bolsonaro até 2022 pode ser mais interessante do que sua substituição pelo general Mourão. A alternativa preferida pela esquerda, o afastamento de presidente e vice para convocação de novas eleições, parece fora do alcance.
Entre os parlamentares mais ligados ao PIB e ao mercado, incluindo aí o Centrão, há uma sensação de que Bolsonaro não terminará o mandato, mas há cautela. Nas contas dessa maioria, as condições para o impeachment virão pelo desgaste do governo na economia, pelo empobrecimento, pela quebradeira das empresas e pela recessão que se avizinha. Mas é preciso esperar seu amadurecimento.
Uma dica: é bom ficar de olho nas eleições de outubro, que se refletirem a desidratação política do presidente e do bolsonarismo, podem ser a senha para o início do processo de impeachment.
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