Segundo o Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), em julho, 2.254,9 quilômetros quadrados de floresta foram devastados. Em relação ao mesmo período do ano passado, o aumento do corte raso foi de 278%. Este foi o maior crescimento nas taxas de desmatamento desde que o Inpe adotou sua atual metodologia em 2014.
Um grande aumento do desmatamento já havia sido apontado em junho, quando a devastação da floresta cresceu 88% em relação ao mesmo mês de 2018. A divulgação destes dados causou uma crise entre o Inpe e o governo de Jair Bolsonaro, que culminou com a demissão do presidente do instituto.
Logo após a divulgação dos dados que revelaram o aumento do desmatamento em junho, Bolsonaro contestou a informação e acusou o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, de mentir e de agir "a serviço de uma ONG". Em resposta, Galvão rebateu as críticas, defendendo o trabalho do instituto.
"Ele [Bolsonaro] tem um comportamento como se tivesse falando num botequim. Isso me assustou muito. Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, e não foi só eu", disse Galvão em entrevista ao Jornal Nacional.
Bolsonaro voltou então a atacar Galvão na última quinta-feira e ameaçá-lo de demissão durante uma coletiva de imprensa, que foi convocada pelo Ministério do Meio Ambiente para contestar novamente a metodologia do Inpe. O presidente disse que os números teriam sido "espancados" para atingir o país e chamou de "irresponsabilidade" a divulgação dos dados.
Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, apresentou mapas para supostamente mostrar que os dados do Inpe seriam "sensacionalistas" e "não condizentes com a realidade", alegando que 31% dos registros das maiores áreas desmatadas contabilizadas em junho último teriam ocorrido, na verdade, em meses passados.
Diante da crise, Galvão acabou sendo exonerado. O afastamento do diretor foi criticado por ambientalistas. Na segunda-feira, o ministro de Ciência e Tecnologia, que é responsável pelo Inpe, nomeou o oficial da Aeronáutica Darcton Policarpo Damião, que é formado em Ciências Aeronáuticas e tem doutorado em desenvolvimento sustentável, para assumir o comando do instituto interinamente.
Em entrevista ao jornal O Globo, Damião garantiu que o instituto continuará divulgando dados sobre o desmatamento, porém, afirmou que isso ocorrerá apenas em situações alarmantes e após o presidente e os ministros do Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia terem sido informados. O diretor interino disse ainda que não está convencido que o aquecimento global seja causado pela ação humana.
Já Pontes afirmou a jornalistas nesta segunda-feira que os dados do Inpe não passaram por filtros antes de serem divulgados. "A entrega dos dados será feita com transparência. Isso é importante. Precisamos trabalhar na solução do problema que é reduzir esse desmatamento", disse.
O Brasil abriga 60% da Floresta Amazônica, que é um regulador chave para os sistemas vivos do planeta e também para o índice de chuvas no país. Suas árvores absorvem cerca de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano e liberam 20% do oxigênio do planeta.
Depois de ter sido considerado uma história de sucesso ambiental, o Brasil vem perdendo esse espaço, principalmente, desde a eleição de Bolsonaro, que já declarou várias vezes a intenção de explorar a floresta e negou a existência das mudanças climáticas. Devido ao discurso do presidente e à agenda ambiental do governo, especialistas temem que o desmatamento atinja níveis alarmantes nos próximos anos.
Nos últimos meses, o governo brasileiro reduziu a composição do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), além de tentar transferir a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura. O ministro Ricardo Salles questionou publicamente a eficiência do Fundo Amazônia, que aloca dinheiro para projetos voltados a diminuir o desmatamento.
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