Um dos fenômenos mais atraentes é a coincidência. Na política, as coincidências são particularmente perigosas, porque dão margem ao desenvolvimento de teorias conspiratórias, que já se tornaram uma espécie de esporte preferido na Praça dos Três Poderes. Realmente, não faltam teorias conspiratórias nesse início de governo Bolsonaro. E praticamente todas elas são cultivadas na horta do guru virginiano Olavo de Carvalho, com entusiástica participação dos filhos Zero Um, Zero Dois e Zero Três, não necessariamente nesta ordem cronológica.
Tirando de lado coincidências e teorias conspiratórias, o fato concreto, que não admite contestações, é que Olavo de Carvalho, o mais estranho personagem da República, sumiu do noticiário de repente, não mais que de repente, que maravilha viver, diria o poetinha Vinicius de Moraes.
Ao mesmo tempo, também saiu de cena o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, enquanto o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, se recolhia às suas atividades normais de chanceler informal. O único que ficou com grande exposição na mídia foi o senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um, que há meses tenta submergir e passar despercebido, mas a vida seguiu em frente e o colocou de novo nas manchetes das páginas policiais.
De tudo isso emerge uma certeza. Na terça-feira passada, dia 7, aconteceu algo de muito importante no almoço fora de agenda do presidente Bolsonaro no famoso Forte Apache, quartel-general do Exército em Brasília, com a presença dos comandantes das Forças Armadas e das figuras mais representativas da classe militar.
De lá para cá, Olavo de Carvalho somente se pronunciou politicamente uma vez, pelo Facebook, em estilo ático, sem usar um só palavrão, numa clara tentativa de se desculpar junto aos generais Villas Bôas e Santos Cruz.
Outro fato concreto foi que o deputado Zero Três, que apoiara as grosserias do guru virginiano e avisara que os ataques prosseguiriam “a quem não seguisse” o presidente, na mesma terça-feira recuou e disse que iria passar a pôr “panos quentes” nas polêmicas. Ao mesmo tempo, o vereador Zero Dois, que dissera na intimidade haver “implodido” o general Santos Cruz, simplesmente sumiu do noticiário político, e agora voltou com uma frase enigmática: “O que está para vir pode derrubar o Capitão eleito”.
Certamente está se referindo à investigação sobre atos ilícito do Zero Um, que envolvem indiretamente o próprio Bolsonaro pai.
É claro que tudo isso pode ser apenas coincidência, mas os fatos concretos se somam e indicam que a ala militar conseguiu neutralizar o grupo olavista, mas surgiu nova crise a impedir que o governo comece a trabalhar com maior unidade e empenho.
Desde os tempos de Jânio Quadros que não se vê uma gestão tão atrapalhada. Para melhorar, é preciso que o presidente Bolsonaro descarte de vez as teorias conspiratórias e passe a se dedicar ao governo, ao invés de perder tempo com redes sociais e outras bobajadas.
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