Tenho lido e pesquisado sobre as relações entre as mudanças climáticas e as várias crises migratórias mundo afora, sobre as várias crises migratórias mundo afora e a ascensão do nacionalismo populista. O último relatório da ONU sobre o drama migratório global estimou em pouco mais de 40 milhões o número de pessoas desterradas e em mais de 20 milhões o número de refugiados.
Os desterrados são aqueles que deixam as regiões de origem em seus países e deslocam-se para outras ainda dentro das fronteiras. Os refugiados são aqueles que fogem de seus países para outros, geralmente mais desenvolvidos, onde esperam melhores condições de vida.
O dado perturbador é que a maioria acachapante dos desterrados e refugiados que a ONU contou em 2016 fugiu não de violência e conflitos como geralmente se supõe, mas de eventos catastróficos relacionados ao clima. Secas, inundações, temperaturas escorchantes e suas consequências, como a perda de lavouras e das condições de vida de muitos dos que dependem da produção agrícola de subsistência. Um estudo científico publicado em 2015 aponta a seca desastrosa que atingiu a Síria como fator de estresse para o conflito que mais tarde se daria.
A literatura sobre alterações climáticas e a deflagração de guerras e conflitos é vasta, e a correlação é bem estabelecida. Em alguns casos é possível ver mais do que meras correlações. Em alguns casos é possível afirmar que problemas climáticos causaram guerras e conflitos. Para acrescentar ofensa à injúria, alguns estudos mostram que o ponto em que estamos hoje não é o resultado acumulado de muitas e muitas décadas de descaso. O agravamento das mudanças climáticas é, na realidade, resultado dos últimos 25 a 30 anos.
Apesar dessas evidências e do temor que elas deveriam causar, vários líderes mundiais as ignoraram. Alguns, talvez, porque não viverão muito mais mesmo, caso do septuagenário que ocupa a Casa Branca. Outros pela mais profunda ignorância sobre qualquer tema, em particular sobre o complicado tema das mudanças climáticas. O ocupante do Palácio do Planalto, que em campanha ameaçou tirar o Brasil do Acordo de Paris, esvaziou o Ministério do Meio Ambiente, suspendeu contratos com organizações não governamentais ambientalistas e extinguiu secretarias que formulavam políticas públicas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas globais.
Por essa razão, inseriu no Ministério do Meio Ambiente representante da “nova direita” que anda fazendo estragos consideráveis na pasta pela qual é responsável. Não à toa, o Museu de História Natural de Nova York se recusou a prestar seu espaço para evento que homenagearia o presidente brasileiro em meados de maio, fato inusitado repercutido nas manchetes internacionais e locais.
É impossível afastar a angústia diante de tudo isso. Ainda que as besteiras de Damares Azul-Rosa Alves sirvam para que se possa rir um pouco — goiabeiras, mulheres submissas e coisa e tal. Portanto, pensem nas rosáceas. Elas sobreviveram às labaredas, vocês viram as labaredas? As belíssimas rosáceas do século XIII e suas pétalas divinamente coloridas por onde já atravessou a luz de tantos séculos continuam lá, não explodiram, não derreteram, como seria de imaginar.
A sobrevivência das rosáceas é uplifting, não porque acredito em milagres ou qualquer outra interpretação religiosa, intervenção divina ou seja lá o que for. A sobrevivência das rosáceas é uplifting porque ela simboliza a resistência do espírito humano que as concebeu e a capacidade que todos temos de apreciar a força e a beleza dessa resistência, mesmo que as circunstâncias sejam as mais violentas e cruéis.
Monica De Bolle
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