Um candidato é a soma do que fala, do que falou e de seu comportamento pessoal e político. Mas é também a imagem que os seguidores fazem de seu líder.
No caso do PT, claro, o líder é Lula, e não Haddad. Sua vitória seria a revanche não apenas contra os promotores e juízes da Lava-Jato, mas contra uma operação legal e institucional que flagrou o maior escândalo corporativo do mundo. Não é exagero. Não se encontra por aí um modelo de corrupção tão organizado, envolvendo praticamente todos os órgãos do governo.
Com Haddad/Lula eleito, tudo isso seria um não acontecimento ou, como dizem, uma invenção das elites reunidas no Judiciário, na mídia, nas empresas e nos bancos — tudo para massacrar os pobres.
No caso de Bolsonaro, sua vitória, como dizem o candidato e seus seguidores, seria o triunfo sobre os canalhas, que é como se referem aos adversários. E sobre uma grande conspiração.
Bolsonaro e seus seguidores veem em toda parte uma armação de comunistas, ateus, infiéis, amigos dos bandidos e corrompidos moralmente, todos contra o homem comum. Desconfiam da urna eletrônica, das pesquisas eleitorais, da mídia. Gostam das Forças Armadas e das polícias, mas desconfiam da Polícia Federal se esta não demonstrar que o atentado contra Bolsonaro também foi parte de uma grande conspiração.
Não é por acaso que os dois extremos — lulistas e bolsonaristas — têm um mesmo alvo. Para os petistas, a mídia é golpista e dominada pelas elites reacionárias. Para os bolsonaristas, é dominada por uma esquerda imoral.
É claro que não podem estar falando da mesma coisa. Estão falando da imagem que cada lado tem da imprensa, formando-se duas imagens necessariamente falsas. A mesma mídia não pode ser ao mesmo tempo elitista e comunista.
Vai daí que a opinião dos outros não tem a menor importância para esses dois extremos. Muito menos a prática democrática da controvérsia e da diversidade.
A esta altura, perguntarão os leitores: mas os eleitores de Bolsonaro e Lula/Haddad são todos assim?
Há muitos que são. Sim, há extremistas e intolerantes entre nós. Mas isso não explica tudo.
No lado do PT, muitos eleitores votam pela lembrança de bons anos do governo Lula. De fato, emprego, salários e crédito cresceram de modo expressivo. Não foi uma obra do lulismo, mas uma combinação clássica de estabilidade econômica (neoliberal!) e uma onda externa favorável. Todos os países emergentes se deram bem — e até melhor que o Brasil. Nenhum emergente, por exemplo, passou pela dura recessão gestada aqui pelos governos Lula e Dilma. O lulismo, ao final, entregou desemprego.
Nesse aspecto, o impeachment de Dilma foi até uma sorte. Livrou Lula do peso do governo, permitiu que sua intensa propaganda passasse para a oposição e convencesse muita gente de que foi tudo culpa dos golpistas. Mentir foi a tática. Como essa agora de dizer que a ONU considerou legítima a candidatura de Lula, quando há apenas um parecer dado por dois membros (alinhados à esquerda) de um comitê acessório formado por não diplomatas.
Mais uma vez, o lulismo contou com a incompetência e as hesitações do centro político e liberal.
No lado de Bolsonaro, muitos eleitores simplesmente estão fartos do governo, do excesso de impostos e da falta de serviços públicos, dos políticos corruptos eternamente no poder e, sim, da imposição do chamado politicamente correto. Reparem: muitos eleitores dessa direita são liberais no sentido de achar que cada um se comporta como quer. Mas não apreciam quando a agenda progressista é imposta por meio de leis e obrigações.
Também aqui, o centro liberal — nos costumes e na política — não soube contar e colocar sua história.
E assim chegamos a uma eleição em que uma agenda é tirar Lula da cadeia e anular a Lava-Jato. A outra é prender Lula e todos os demais canalhas.
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