sábado, 19 de maio de 2018

Estado assassino

Jair Bolsonaro é um apologista da tortura e nunca fez segredo disso. As barbaridades que ele diz são esperadas, ninguém deveria se surpreender quando – comentando as revelações da CIA sobre o Geisel – ele compara assassinato de Estado com palmadas no bumbum de um filho. Não se sabe se sua candidatura sobreviverá às barbaridades, mas, por enquanto, seus apoiadores e eleitores declarados podem sustentar que seu candidato, digam o que disserem, é sincero como nenhum outro.

O Bolsonaro folclórico é sua própria explicação. O que explica tanta gente disposta a elegê-lo, segundo as pesquisas de intenção de voto, sabendo o que sabe ou não querendo nem saber? Ninguém se incomoda que fomos um Estado assassino? Ninguém se importa que até hoje nenhum torturador foi condenado em primeira, segunda ou terceira instância no Brasil? A falta de memória ou de idade justifica a ignorância de muita gente sobre o que foram os anos da ditadura, mas a culpa disso é do silêncio dos militares sobre seu passado e seus crimes. Não se ouviu nem um “Desculpe, gente”.

Quantos se lembram ou ouviram falar do quase massacre no Riocentro, no governo Figueiredo, o último dos generais presidentes? Só não morreram centenas de pessoas no show que aconteceria no local porque a bomba que deflagraria a tragédia explodiu no colo do capitão que a acionaria. Qual foi a consequência do atentado, que seria atribuído aos comunistas? Nenhuma. Pelo resto do seu governo, Figueiredo teve que conviver com aquele elefante na sala, tendo que responder “Que elefante?” sempre que lhe pediam explicações. O Figueiredo já morreu, o capitão não sei, mas o elefante continua na sala, sem nunca ter sido explicado. E o elefante continua em silêncio. 

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