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O século passado – como diz o harvardiano Nur Yalman – está permeado das carcaças de revoluções fracassadas. Lenin, Stalin, Mao, Mussolini e Hitler tentaram todos controlar a modernidade – para detê-la ou acelerá-la – e falharam. Mustafa Kemal Pasha, o famoso Atatürk tendo como inspiração o materialismo burguês, buscou acomodar soberania popular com islamismo nas décadas de 20 e 30 do século passado, mas, como diz Yalman (que é turco), tal tentativa fracassou no atual regime de Erdogan.
Fizemos muito mais revoluções políticas e econômicas do que religiosas e, no entanto, a Reforma que, pelo credo revolucionário, seria uma mera rebelião, agenciou uma irônica mudança sem precedentes. A crer em Max Weber e Karl Polanyi, ela estilhaçou o centralismo, reinventou a racionalidade, o capitalismo e o mercado...
Tivemos também o nosso momento revolucionário com Getúlio Vargas, em 1930, e até hoje persiste dúvida na classificação do movimento militar ocorrido em 1964. Para quem diz que o movimento ocorreu no dia 1.º de abril, todo mundo caiu num golpe. Para quem se refere a um romano fim de março, teria sido revolução.
A intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, determinada por imoralidade administrativa, a perda de controle da rotina tomada por bandidos e a mais absoluta ausência de competência têm suscitado reações.
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Grande parte da elite brasileira se diz revolucionária, mas não chega a ser reformista. E, menos ainda, protestante. Há, agora, o receio da intervenção no sistema de (in)segurança do Rio de Janeiro. Reformar mete menos medo do que intervir, que fica mais ao lado do protesto. Primeiro, porque sempre fizemos as reformas apropriados a um Estado republicano cuja função sempre foi a de canibalizar a sociedade a ele profundamente entrelaçada, mas sempre visto como sendo uma entidade independente e, quando interessa, onipotente. Segundo, porque as reformas requerem uma densa aprovação política e têm amplos objetivos e múltiplas consequências. Para muitos, elas correm o risco de realizar o que tememos: igualar e regular privilégios. Terceiro porque, nas reformas, as responsabilidades podem ser dissolvidas. Rejeitadas ou modificadas numa instância política, pode-se culpar uma outra e se ninguém decide coisa alguma, vão para o centro de nossa hierarquia: o STF.
O contraste com a intervenção é nítido. Nela, há a figura de um interventor. Personificada num responsável, corre-se o risco de erro ou acerto – ou seja: daquilo que os políticos escondem, já que são capazes de tudo, menos de admitir culpa ou admitir erros. Em suma: a intervenção é um protesto, tem uma autoria e permite atribuir responsabilidade, dimensões que o sistema, regido pela sua matriz aristocrática, tem horror.
Finalmente, mas não por último, intervenção rima com revolução.
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