Observe que, de uns tempos para cá, todos parecem ter a mesma opinião sobre os principais temas relativos à humanidade - e utilizei a expressão "parecem" porque aos que eventualmente discordam de algo reserva-se o limbo ou a discriminação pura e simples.
Brecht Vandenbroucke |
Fico a recordar, diante deste quadro, das palavras - hoje tão negligenciadas - de Voltaire: "não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-las".
Veja, com olhos de ver, os principais meios de comunicação da humanidade. Observe que todos parecem refletir um só caminho, defender uma só "verdade". É difícil neles encontrar uma entrevista ou manifestação outra de opinião divergente quanto a estas tais "verdades" - as exceções são quase sempre retratadas de forma a minar-lhes a credibilidade. E contemple Voltaire a inquietar-se na tumba.
Pense em alguma reunião social. Experimente emitir alguma opinião diferente daquelas que, rotuladas como "politicamente corretas", já estejam entranhadas no espírito de seus interlocutores - para constatar-se relegado ao desprezo, enquanto alvo de olhares de reprovação. E pense em Voltaire revirando-se no túmulo.
Tão mais chocante este quadro quando em contraste com a "Era da Informação", da qual tanto nos orgulhamos enquanto humanidade. A despeito de fascinados pela oportunidade da troca de ideias com pessoas de cada canto e recanto deste planeta, quão poucos de nós ousam questionar aqueles "conceitos estabelecidos".
Seria o nosso conformismo fruto do medo da solidão? Afinal, integrar uma massa - ser um "animal de rebanho", nas palavras de Nietzsche - é uma tendência que brota do receio do isolamento social.
O perigo deste agir é que, excluindo-nos da história, a ela alçamos, aqui e ali, déspotas e falsos profetas - que o diga a patente e inequívoca decadência espiritual e moral da humanidade.
Contemplando tão triste realidade, encerro estas linhas com a profunda indagação de Spinoza: é possível fazer da multidão uma coletividade de homens livres, em vez de um ajuntamento de escravos?
Pedro Valls Feu Rosa
Veja, com olhos de ver, os principais meios de comunicação da humanidade. Observe que todos parecem refletir um só caminho, defender uma só "verdade". É difícil neles encontrar uma entrevista ou manifestação outra de opinião divergente quanto a estas tais "verdades" - as exceções são quase sempre retratadas de forma a minar-lhes a credibilidade. E contemple Voltaire a inquietar-se na tumba.
Pense em alguma reunião social. Experimente emitir alguma opinião diferente daquelas que, rotuladas como "politicamente corretas", já estejam entranhadas no espírito de seus interlocutores - para constatar-se relegado ao desprezo, enquanto alvo de olhares de reprovação. E pense em Voltaire revirando-se no túmulo.
Tão mais chocante este quadro quando em contraste com a "Era da Informação", da qual tanto nos orgulhamos enquanto humanidade. A despeito de fascinados pela oportunidade da troca de ideias com pessoas de cada canto e recanto deste planeta, quão poucos de nós ousam questionar aqueles "conceitos estabelecidos".
Seria o nosso conformismo fruto do medo da solidão? Afinal, integrar uma massa - ser um "animal de rebanho", nas palavras de Nietzsche - é uma tendência que brota do receio do isolamento social.
O perigo deste agir é que, excluindo-nos da história, a ela alçamos, aqui e ali, déspotas e falsos profetas - que o diga a patente e inequívoca decadência espiritual e moral da humanidade.
Contemplando tão triste realidade, encerro estas linhas com a profunda indagação de Spinoza: é possível fazer da multidão uma coletividade de homens livres, em vez de um ajuntamento de escravos?
Pedro Valls Feu Rosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário