segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

O retrovisor e a luneta

Nesta época do ano, não adianta evitar o impacto da dimensão temporal da existência, segundo a qual a vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas, só pode ser vivida, olhando-se para frente com atenção plena para momento presente que acende e apaga instantaneamente.

Com efeito, o retrovisor me levou à década de 50, na sabatina sobre religião no preparatório de admissão (espécie de vestibular para ingresso no curso ginasial), do Externato São Luís de Gonzaga, sob a batuta de Dona Francisquinha, exigente professora e doce criatura.

– Zé Maria (nome fictício), pergunta fácil: como morreu Jesus Cristo nosso Salvador? Zé Maria era vítima da crueldade dos colegas, o tal do bullying, pela distração e suposta dificuldade de aprendizado. Nervoso, hesitante, demorou segundos para responder, quando um gaiato da turma soprou: – Na cama, com padre Pita (Pároco da Matriz) dando a extrema-unção – o que foi repetido automaticamente. Uma zorra! Ambiente incompatível com a disciplina rigorosa do tempo da “palmatória pedagógica”. Os olhos marejados de Zé Maria deram de cara com a face crispada de contrariedade da querida professora. Silêncio trovejante de um mudo “tamos lascados”.

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Surpresa! A Mestra, suavemente, deu inesquecível e emocionante lição sobre os valores do respeito, da solidariedade e de amor ao próximo. Antes, o ardor da palmatória nas nossas mãos. Dali, cada um tomou seu rumo, embora, o caminho desejado pelo orgulho familiar fosse a conquista de um canudo de doutor em Direito, Medicina ou Engenharia.

Zé Maria trabalhava na mercearia do pai. Desde cedo, demonstrava pendores para a arte de comerciar, produzir e empreender. Concluiu o curso médio de contabilidade e ganhou o mundo. Embrenhou-se na conquista do centro-oeste e, hoje, é um rico produtor da soja, “inteligente e competitiva”, gestada pela EMBRAPA, a incubadora do agronegócio brasileiro que produziu este ano mais de 240 milhões de toneladas de grãos.

Ora, o complexo conceito de inteligência se manifesta na faculdade de entendimento das ideias e/ou na destreza ou habilidade corporal ou verbal (a primeira dianoia e a segunda sophia para os gregos) sendo a última, a sabedoria, a ação que transforma o mundo real.

Para frente, minha luneta enxerga a esperança de que a educação brasileira, a partir das propostas estruturantes da gestão do Ministro Mendonça Filho (a exemplo da BNCC), ofereça oportunidades de desenvolver as potencialidades dos jovens brasileiros.

Gustavo Krause

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