Sherlock Holmes certamente resolveria o mistério. Entre ensaios de violinos e contando com a lubrificação criativa de algumas doses de ópio, chacoalharia seu tédio para impiedosamente desvendar, sem muito esforço, diga-se, a pergunta que há muito nos corrói: “que país é este? ”
Lendo somente a primeira página dos jornais, retiraria pistas que o levariam a brilhantes e certeiras deduções denunciando de maneira clara e evidente os elementos necessários a resposta ao dilema.
Para Holmes, as informações disponíveis a olhos vistos constituiriam as pistas e o corpo probatório necessário para entender o que somos, seremos e como chegamos aqui. Lamentavelmente, a indisponibilidade dos serviços Sherlock faz com que todo este acervo de evidencias seja desperdiçado. Sem a ajuda de Holmes, só se vê desordem do caos. Sem jamais avistar o consolo das explicações.
Permanece o mistério sobre uma nação que, 500 anos após a chegada do primeiro português, ainda acredita que a exploração de recursos naturais é o único caminho para o desenvolvimento. Vê o meio ambiente como obstáculo. É incapaz de inovar. Ou de, pelo menos nesse campo, ter ideias originais.
Carece de explicação o que levou o povo a se autodeclarar pais do futuro, potência emergente, entre outros adjetivos temperados com arrogância. Ao mesmo tempo, grita por esclarecimento as razões pelas quais este mesmo povo celebra despioras. Somos servos da mediocridade. E escravos da ausência de ambição.
Clama por esclarecimentos a lógica que suporta uma nação controlada por cleptocratas confessos enquanto seu povo se divide para apoiar profetas falsos, populistas baratos, e torcidas uniformizadas. Povo que torce, mas não debate. Não gosta, mas tolera. Reclama, mas não muda.
Carece de elucidação porque depois de tanta agua ter passado embaixo de nossa ponte para um futuro melhor, nos empenhamos em destruí-la. Não conseguimos pensar além de algumas poucas semanas. Sem dar a menor importância, condenamos nossa ponte a implosão pelas ideias ultrapassadas, irrelevantes, ou simplesmente medíocres.
A gente não aprendeu. E talvez tenha esquecido o que soube um dia. Elementar, meu caro Watson.
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