Ao defender-se de críticas sobre encontros frequentes e em horas aparentemente impróprias que não constam de sua agenda oficial, Temer justificou:
- O presidente trabalha permanentemente e não tem local de trabalho. Eu converso com quem quiser, a hora que eu achar mais oportuna e onde eu quiser.
Como qualquer pessoa, o presidente pode de fato trabalhar além do expediente normal. E pode conversar com quem quiser, na hora que achar mais oportuna e no local que preferir. Mas não pode reclamar se seu comportamento for censurado.
Como servidor, o presidente deve satisfações de cada um dos seus atos ao distinto público. Mais ainda quando alguns deles possam parecer suspeitos. Reunir-se, por exemplo, tarde da noite com um empresário em porão de palácio é um ato incomum.
O ato passou a ser suspeito porque o empresário, investigado por corrupção que mais tarde confessaria, foi admitido no palácio com falsa identidade, disse o que acabou registrado em gravação ruidosa e ouviu o que deixou mal o seu interlocutor.
Por que Temer reuniu-se às escondidas com a nova procuradora-geral da República nomeada por ele para suceder o procurador-geral que o denunciou por corrupção? Por que não o fez durante seu expediente normal de trabalho, à vista de todos?
Por que quase sempre é às escondidas, a salvo da curiosidade dos jornalistas, que costuma reunir-se com o ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral que o julgou e absolveu recentemente por abuso de poder econômico?
Por que providenciou jarros de plantas para cercar a entrada principal do palácio onde mora de modo a impedir o registro de imagens dos seus visitantes? Por que escondê-los? Por que se esconder? O que pretende esconder? Do que tem medo?
No regime político sob o qual vivemos ninguém é mais poderoso que o presidente da República. Ninguém é mais escrutinado do que ele. Portanto, ninguém deve mais explicações do que ele.
Ricardo Noblat
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