quarta-feira, 5 de julho de 2017

Na política brasileira, não existe altivez

Não, caro Acílio, não nos deixemos enganar, esperando algum gesto altivo da parte do presidente Temer.

Agora, nem outra pessoa que em seu lugar estivesse teria a dignidade de sair de cena em nome do interesse geral. E nem se pense que esse apego ao cargo seja um ponto fora da curva. O próprio João Goulart, vítima – este, sim – de um golpe parlamentar (quando o presidente do Congresso, Auro Moura Andrade, declarou vago seu cargo, antes de as tropas completarem seu serviço), nem ele saberia eu dizer se renunciaria. E Jânio Quadros não o fez a sério, dizem os historiadores: julgava poder voltar nos braços do povo. Se houve ponto fora da curva, esse foi Getúlio Vargas... mas os tempos eram outros... e muitos ainda não viviam sob a égide do “em terra de murici, cada um cuida de si”.


Mal comparando, nem Deus em Sua infinita bondade resolveria o problema dos presidentes para nós, brasileiros. Não se esqueça, Acílio, de que, ao tirar a vida de Tancredo Neves (nem se aventure a dizer que este teria sido melhor!), Ele não pôde ou não quis dar-nos outra coisa que não o Sarney. E, como cruéis babás fazem ao tentar apavorar crianças birrentas ameaçando chamar o “lobo mau”, Sarney agora é lembrado ao se dizer que, com Temer, estamos em pleno processo de “sarneyrização”...

Aliás, andei refletindo sobre os limites da vontade divina em relação às coisas humanas, quando imaginei uma cruzeirense, como eu, apelando a Deus para não nos humilhar com uma derrota depois dos 3 a 0 do primeiro tempo sobre o Palmeiras. E um palmeirense, com a mesma fé, querendo a todo custo nos liquidar. E no domingo?! Como Deus poderia arbitrar um jogo de futebol?!

Conheço um bocado de coisas na política. Assim como você. Não sejamos ingênuos, caro Acílio.

Aliás, de tanto pensar, consegui encontrar algo de bom no desastre que foi Dilma Rousseff: para elegê-la, o Brasil foi obrigado a colocar o PMDB na roda. Deixou de ser o partido que serviu a todos os governos (com as exceções de praxe) desde o de Collor, passando pelos dois de FHC e dois de Lula, sem ninguém conseguir pôr a nu o mal que nos faz um conglomerado de caciques regionais, acostumados a todas as boquinhas, nunca sendo o responsável principal por coisa alguma. Agora, tendo sido vice de Dilma duas vezes, Temer pôde mostrar sua cara, assim como Moreira Franco, Eliseu Padilha, Eunício de Oliveira e tantos quantos que com eles formam a República do Pudim. Sem dúvida alguma, bem pior que a República do Pão de Queijo, ora bolas!

Agora se anuncia que até o abono salarial – criado pelo mais cruel dos ditadores pós-64, Garrastazu Médici – pode ser abolido. Já tinha sido parcelado por Dilma e agora talvez venha a ser definitivamente extinto. Coitados dos trabalhadores de baixa renda! O abono foi criado quando se reconheceu que o arrocho salarial havia passado dos limites. E agora querem acabar até com esse “trocado”.

Mas, para não dizer que não falei de flores, aí está Aécio Neves, lépido e lampeiro, a alardear que “sempre acreditou na Justiça”.

Haja justiça!

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