quarta-feira, 5 de julho de 2017

Cinco perguntas sobre 'coisas inexplicáveis' do cotidiano brasileiro

Alguns meses atrás, encontrei um amigo que não via havia 25 anos. Ele trabalha viajando pelo mundo dando consultoria sobre sistemas de saúde, portanto tem milhas de sobra e me ofereceu uma viagem de graça para Austrália.

Não aceitei - ate agora, pelo menos - por causa de compromissos profissionais. De vez em quando fico lamentando. Além de ver as belezas do país, eu poderia aprender um pouco mais sobre um dos episódios mais fascinantes da história da humanidade: como essa grande terra austral foi povoada.

Os "indígenas" da Austrália - os aborígenes - têm uma das culturas mais antigas do mundo, senão a mais antiga. Mas "indígena" é uma palavra que só serve até certo ponto.

Nunca houve primatas na Austrália, portanto as pessoas vieram de outro lugar, saindo da África e atravessando a Ásia primeiro. Chegaram à Austrália há pelo menos 40 mil anos - alguns especialistas acham que pode ter sido 125 mil anos. Mas como?

A Austrália é uma ilha. Será que eles navegaram até chegar a uma terra antes desconhecida, com homens e mulheres em quantidades suficientes para fundar uma civilização que povoou um continente? Seria uma façanha e tanto, pois as primeiras evidências dessas habilidades só foram registradas na Humanidade séculos depois.

A pré-história dos aborígenes tem, então, mistérios intrigantes.

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Em comparação, o processo de povoamento do Brasil parece bem mais fácil de explicar. Os povos indígenas atravessaram o Estreito de Bering desde a Sibéria e acabaram se espalhando pelas Américas. Quinhentos anos atrás, chegaram os portugueses (e espanhóis, holandeses, franceses, etc.), que trouxeram milhões de africanos como escravos.

E, no fim do século 19 e início do século 20, aconteceu a imigração em massa vinda da Europa, do Japão e do Oriente Médio. Talvez o mistério aqui seja como um país de colonizadores tem tanta tendência a ver-se a si mesmo como uma vítima da colonização.

Mas não é isso que quero abordar nesta humilde coluna. Em vez disso, de uma maneira leve, procuro identificar minimistérios brasileiros, retratos inexplicáveis do cotidiano tupiniquim. Como por exemplo:

- Nas lojas de camas e colchões, por que os vendedores sempre vestem casacos brancos, que nem médicos? Será que querem se parecer com doutores do sono? E se existir tal coisa, onde se ganha o diploma?

- Que diabos, precisamente, significa "pois é"? Sem essa expressão, as conversas cariocas seriam reduzidas pela metade, mas uma definição de conteúdo confunde qualquer análise. Ela não necessariamente quer dizer que o sujeito esteja concordando com o interlocutor, nem o contrário. É tão vaga que desconfio que tenha sido inventada por um político. E nem estou entrando no mérito do "pois não?".

- Por que os donos dos motéis são sempre espanhóis? Vários daqueles que fugiram do regime de Franco acabaram se dedicando a esse ramo. Será uma reação à educação recebida em colégios de freiras? Ou uma extensão de princípios religiosos? Algo do tipo, "já que existe luxúria no mundo, o preço do pecado pode servir para o meu lucro".

- Precisam mesmo de tantas farmácias? Realmente tem mercado para todas elas? De vez em quando aquela mais perto da minha casa faz um evento promocional. Bota caixas de som na rua e coloca dois anões vestidos de super-heróis para dançar. Será que funciona? Será que quem estiver passando vai pensar o seguinte: "Olha só, tem uma pessoa vestida de Batman pulando! É aí que vou comprar os meus remédios!".

- Por que vocês brasileiros têm que usar tanta água? Torneiras abertas por horas, banhos eternos, mangueiras abertas... Tem momentos em casa que preciso fechar os ouvidos ou ir para rua para não pirar. Estão querendo provocar uma enchente para poder nadar até a Austrália? Pensando bem, será que foi assim que os aborígenes chegaram lá?

Tim Vickery

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