terça-feira, 6 de junho de 2017

Se escapar...

Vi um quadro de alerta na porta dos elevadores de um prédio público que, além de enumerar procedimentos de segurança em caso de incêndio, arrematava com a frase: Se escapar, chame os bombeiros.

A indicação puxada pro terror é perfeita para o agora.

Se escapar...

Anda muito difícil escapar.
Resultado de imagem para fugindo com a mala
Oceanos longe de nós, correm soltas guerras declaradas, nada santas, com todas as tragédias e dores que provocam – terra arrasada, mortos, feridos, mutilados, refugiados errantes, expatriados para além de suas fronteiras, rejeitados em fronteiras mais seguras.

Seguras?

Pelo mundo, o terrorismo é ameaça real, constante. Os alvos são cidadãos comuns, gente como a gene. Explosivos são a modalidade mais comum dos ataques que vêm do nada, em qualquer lugar. Nos últimos dois anos, atropelamentos, tiros, esfaqueamento acrescentam corpo a corpo ao terror.

São ataques sem coordenação central, mas iniciativa de um ou alguns que odeiam – a própria vida inclusive. Por causas difusas, saem para matar quantos conseguirem até que sejam mortos.

O ódio é a pilha de todas as violências, toda a barbárie. Aqui e lá.

Vítimas do terrorismo pelo mundo somam mais de 16 milhões, mais de 43 mil mortos. Iraque, Paquistão e Índia registram o maior número de ataques e de vítimas.

Mas, quando tudo – carros, facas, aviões, bombas – vira arma, ninguém, nenhum lugar é suficientemente protegido,

Nos cinco primeiros meses de 2017, no planeta Terra, 3.349 pessoas morreram em atentados terroristas.

Notícia de ontem: em três semanas, o Brasil alcança esse número de mortos, seja nos assassinatos coletivos – as já vulgarizadas chacinas – ou no um a um de cada dia. Jovens de 15 a 29 são os mais atingidos - a maioria é negra, pobre e das desprotegidas periferias brasileiras.

No Brasil de hoje a violência é intensa e cada vez mais espalhada. Aqui a guerra é real , mas não declarada.

Em 20 anos, entre 1955 e 1975, morreram 1,1 milhão de pessoas nas guerras do Vietnã. No Brasil, também em 20 anos, entre 1995 e 2015, outros 1,3 milhão foram assassinados.

Em 2015, foram 59.080 as vítimas de homicídio - 161 mortos por dia. A maioria classificada como MVCI – morte violenta com causa indeterminada.

“Temos uma crise civilizatória”, concluiu um técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Não disse quanto custa ao país, nem ao mundo, a crise civilizatória.

Uma “googada” e sabemos que, no mundo de 840 milhões de famintos, as despesas militares de três anos superam 1,7 trilhões. Tipo, 260 dólares por pessoa.

O comércio internacional de armas convencionais movimenta US$ 80 bilhões por ano. Mas o número real deve ser bemmm maior. Os principais exportadores, China e o Reino Unido, por exemplo, não dão informação precisa sobre essas suas exportações.

Questão de segurança, entende?

Ou seja, o dinheiro rolado nesse “business” é estimado. Nunca estão incluídas vendas para o mercado doméstico ou as embaixo do pano –contrabando e a tal da caixa 2, com a qual estamos muito familiarizados.

A crise civilizatória é também cínica.

Combatemos guerras vendendo armas. Combatemos assassinatos comprando armas, aparelhando melhor a polícia para alcançar o mesmo nível de armamentos dos bandidos, que compram dos produtores, que são absolutamente democráticos nas vendas. Vendem para quem paga – bandido ou mocinho, no oficial ou no não contabilizado.

A crise civilizatória não tem fronteiras.

Aqui, no nosso penar sem fim de perplexidades, chegamos até um Ministro da Fazenda que sonegou impostos durante todo o tempo que cuidava da economia.

Temos um presidente investigado.

Temos pencas de indignados indignos,

Temos um humorista-apresentador de TV que recebe uma notificação extrajudicial, rasga, derrama nas partes intimas, recolhe e envelopa, para devolver ao remetente. Antes, destaca por escrito que a encomenda segue com “cheirinho especial”. Para não deixar dúvidas sobre o grau da grosseria e do deboche, toda a ação é gravada e postada nas redes sociais.

Recente, ali na Paraíba e em Pernambuco, tivemos rebeliões em centros socioeducativos – desses que guardam menores “apreendidos”. Num e noutro, morreu gente. Sete daqueles mortos socioeducados foram queimados vivos por outros dos socioeducados.

Nas rebeliões de presos maiores de 18 anos, degolar é costumeiro. Notícias que, de tão corriqueiras, passam batido.

O menu da “crise civilizatória” é amplo. Não há spy que dê conta. E eles são muitos.

Assim, se escapar do terrorismo, da guerra, da bala perdida, do assalto, da degola, da fogueira, de corruptores e corrompidos, das escutas, reze.

Agradeça ao divino, porque seguro mesmo só o céu, esse que existe como abstração, como sinônimo de paraíso, que é a esperança de coisa melhor a ser alcançada, um dia, talvez, quem sabe, para os merecedores.

E para merecer é preciso andar santo e muito protegido por outros santos, vida afora. Coisa muito difícil nas crises civilizatórias.

PS: Se escapou hoje, agradeça. E reze também pelo TSE.

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