Essa ideia abstrata de nação é que nos mantém juntos, em torno do projeto simples de sermos felizes, uns com os outros. Por isso que o fracasso da nação nos faz tanto mal, nos faz sofrer tanto. Porque ele é a constatação de que fomos incapazes de realizar o sonho a que estávamos generosamente destinados. Essa distância entre destino e logro, entre o que almejamos e o que conseguimos, nos faz penar porque ainda acreditamos (ou acreditávamos) em nós mesmos.
Diante de tantos graves erros políticos e morais de todas as tendências e partidos, não temos mais onde depositar nossa esperança, não vemos mais a quem confiar a nação. Não achamos mais nem mesmo por quem torcer, como no futebol, coisa que sempre nos fez respirar e sobreviver.
Mesmo numa dolorosa experiência política, como a do golpe de 1964, sempre podíamos sonhar com uma saída e torcer por nossos possíveis heróis. Enquanto os militares instalavam o poder autoritário, ouvíamos dizer que Brizola preparava a reação no sul, nos sussurravam que Marighella e sua gente se armavam, nos garantiam que a esperteza de Ulysses e Tancredo não ia nos deixar nessa por muito tempo.
Hoje, da nossa arquibancada cívica, assistimos a um jogo secreto que, de vez em quando, só nos revela incompetência e propinas. Sempre com muito escândalo. Mas talvez seja essa a esperança que nos resta — agora, que não temos mais por quem torcer e vamos depender exclusivamente de nós mesmos, temos que tentar reconstruir o país como se estivéssemos começando do começo, começando de zero.
Cacá Diegues
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