Adiciono que, além de experiência, o Brasil demanda paciência.
O governo Temer dava mostras de grande capacidade de aprovar no Congresso Nacional as reformas absolutamente necessárias e impopulares para pavimentar o caminho da retomada do crescimento em bases sustentáveis.
Tanto a reforma trabalhista quanto a reforma da Previdência avançavam no Congresso. A economia, com enorme dificuldade, melhorava.
Na quarta-feira, foi noticiado que havia uma gravação em que o presidente pedia ao dono do grupo JBS o pagamento de uma mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha para comprar seu silêncio.
O áudio divulgado no fim da tarde de quinta-feira (18) mostrou algo distinto: não há tentativa de obstrução da Justiça por parte de Temer, mas há, de fato, crime de prevaricação.
No caso, o presidente foi exposto a comportamentos criminosos do empresário e não tomou as ações cabíveis.
O governo parece ter perdido a capacidade de governar. É necessário recomeçar.
O caminho é o presidente renunciar, assumindo interinamente a Presidência da República o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem 30 dias para promover eleições indiretas.
Provavelmente o rito da eleição será determinado pelo Supremo, visto que a lei que o estabelece, demanda do artigo 81 da Constituição Federal, não existe.
Há dois caminhos possíveis.
No primeiro, constrói-se um novo governo que incorpora todos os setores da política, inclusive a esquerda. A agenda legislativa fica parada e mantém-se a equipe econômica que dirige o barco da economia até o fim de 2018.
Outro caminho é a base parlamentar de Temer reconstruir-se em torno de outro nome que carregará a bandeira das reformas e retomará o processo de onde ele parou na quarta-feira.
Se ocorrer a segunda hipótese, boa parcela da piora de preços de quinta-feira —desvalorização do câmbio de quase 8% e perda de valor na Bolsa de 9%— será devolvida. E a recuperação tímida da economia será retomada.
A dúvida é se haverá apoio parlamentar para esse recomeço. O começo anterior parecia mais auspicioso aos olhos dos parlamentares.
A construção do governo Temer ocorreu ao longo do impedimento da presidente Dilma, dois anos e meio antes das eleições de 2018 e com a expectativa de uma recuperação rápida da economia —erro de cálculo dos políticos, desta vez sem poderem culpar os economistas.
Desta vez a bomba de quarta-feira passada pode ser desculpa para abandonar o barco e esperar 2018 em "busca da legitimidade" das urnas. O motivo é que se sabe hoje que a recuperação será dura e que nada há além da agenda de reformas.
Agenda essa cujos ônus aparecem imediatamente, e os bônus, somente após alguns anos. Nesse caso, teremos ampla base anódina de sustentação do próximo presidente, que nada fará.
Ficaremos andando de lado até uma solução eleitoral em 2018, com muita volatilidade nos mercados e crescimento da dívida pública, fato até agora esquecido, mas que passará a ser mais lembrado.
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