O general Juracy Magalhães deixou a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, a pedido do presidente Castello Branco, para assumir o ministério da Justiça e editar o Ato Institucional número 2, que dissolveu os antigos partidos políticos e estabeleceu as eleições indiretas para presidente da República, entre outras monstruosidades. Estava disposto a enquadrar os jornais, que timidamente se insurgiam contra os desmandos do primeiro governo militar, e reuniu os proprietários dos principais. Apresentou-lhes uma lista de redatores e repórteres, exigindo que fossem demitidos “porque eram comunistas”. Foi quando se levantou Roberto Marinho, que tinha transformado O Globo no maior defensor da Revolução, e disse: “Olha aqui, Juracy, eu tenho muitos comunistas na minha redação, mas eles só escrevem o que eu quero. Nos meus comunistas, mando eu!”
Na mesma hora, retirou-se, para espanto dos outros donos de jornal, muitos que já estavam copiando a lista dos subversivos denunciados, prometendo demiti-los. Um dia depois, o dr. Roberto mandou convidar Franklin de Oliveira, recentemente demitido do Correio da Manhã, para tornar-se editorialista de seu jornal, apesar de notoriamente conhecido como comunista.
Esse episódio se recorda como exemplo de que quando se resiste contra a truculência e o arbítrio, a resistência costuma vencer.
O Globo continuou apoiando a Revolução, mas os governos nunca mais pediram a cabeça de um de seus jornalistas. Até ontem, quando não existem mais generais-governantes nem comunistas…
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