Há poucos dias todo o planeta acompanhou, comovido, o resgate dos 33 mineiros chilenos que quase perderam a vida tentando ganhá-la, extraindo minérios centenas de metros sob o solo.
Praticamente na mesma data quatro outros mineiros foram vítimas de um acidente no Equador acabaram presos debaixo da terra, a 150 metros da superfície. Na Colômbia, também naqueles dias, chorava-se a morte de quatro mineiros que trabalhavam em uma galeria 60 metros debaixo da terra. Os corpos de dois deles sequer resgatados foram ficaram por lá mesmo.
Poucas horas depois, do outro lado do mundo, uma explosão em uma mina de carvão lá da China vitimou outros 276 mineiros. 239 deles conseguiram escapar e chegar à superfície, mas 37 outros não tiveram a mesma sorte. Naquele mesmo país, há alguns meses, 115 mineiros ficaram presos no fundo de uma mina, somente tendo sido resgatados uma semana depois. Alguns deles chegaram a comer carvão, na busca desesperada pela sobrevivência.
Diante de tantos e tão frequentes acidentes, decidi pesquisar um pouco mais o assunto. Constatei, chocado, que para cada um dos 33 mineiros chilenos resgatados, cerca de 400 outros morrerão ainda neste ano. Estima-se que a cada ano morram 12.000 mineiros pelas galerias escuras e insalubres das minas.
É assim que minérios os mais preciosos, arrancados das entranhas do planeta ao custo do sangue de tantos semelhantes nossos, vão sendo vendidos a preço de banana para sustentar o que orgulhosamente chamamos de economia de mercado. A quem duvidar de minhas palavras, sugiro comparar o preço de uma tonelada de minério com o de uma única barra de chocolate suíço, ou o de um barril de petróleo com o de um simples litro de uísque escocês.
Pois é. Uns quatro anos se passaram. Lembrei-me dessas linhas ao ler, semana passada, que 282 semelhantes nossos morreram em uma mina na Turquia. Olho para minha mesa, e vejo um telefone celular. Quantos vidas terá ele custado? Vejo, pela janela, um avião passando. Quantos foram para baixo da terra para que ele pudesse alçar voo acima dela.
Talvez, nestes portais do século XXI, nossa tão avançada civilização devesse meditar sobre as palavras do Marquês de Maricá: a escravidão avilta o escravo e barbariza o senhor.
Pedro Valls Feu Rosa
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