terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Não é de espantar!

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação - o PISA, divulgados na última semana, não trazem qualquer novidade a respeito da qualidade da nossa educação básica, em particular do ensino médio.

A cada triênio, procuramos entender a razão para tal tragédia, como intitulou o Ministro da Educação.

Quando se fala de matemática e português, é mais fácil perceber que elas se concentram na fraqueza dos conteúdos programáticos, na ausência de professores qualificados e na lentidão das reformas necessárias e indispensáveis.

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No que concerne à Ciências, disciplina avaliada pelo PISA em 2015, entendo que a nossa maior dificuldade reside na forma de organização das disciplinas, na medida em que certos conceitos, já utilizados na maioria dos países melhor classificados, jamais foram introduzidos por aqui. Um deles é o da transversalidade dos conhecimentos, que deveria impor uma nova forma de transferência de conteúdos aos estudantes.

A sociedade do conhecimento impõe, cada vez mais, uma articulação entre as várias disciplinas, tornando mais clara e mais motivadora a aprendizagem. Não me parece razoável continuarmos a insistir no ensino de física, por exemplo, sem mostrar as suas aplicações no mundo em que vivemos. Da mesma forma, quando em biologia ensinamos a fotossíntese, é fundamental abrir os olhos do estudante para as suas relações com a química.

Outro aspecto determinante do êxito no ensino de Ciências está na experimentação, o que exige a existência de laboratórios minimamente equipados, ausentes na maioria esmagadora das escolas de educação básica.

Em 1956, conscientes da importância do ensino laboratorial, os Estados Unidos desenvolveram um programa de apoio ao ensino de Física, entre outras, denominado PSSC (Physical Science Study Committee) que, utilizando as universidades, gerou livros-texto, orientação para experimentos, equipamentos facilmente acessíveis para escolas e professores, e programas de qualificação e treinamento de docentes.

Tivemos algumas tentativas de trazer tais programas para o nosso país, mas que acabaram por ser esmagadas pelas estruturas curriculares inadequadas, já que as nossas, além de extensas e mal organizadas, limitam-se ao ensino genérico, sem qualquer ligação com a realidade e com a vida diária.

Outro problema que insistimos em não resolver é o da formação de professores.

Em primeiro lugar há poucos, aliás, pouquíssimos, professores de Ciências. Ainda estamos compartimentando as Ciências da natureza nos cursos de licenciatura, deixando de lado uma preparação dos futuros docentes numa ótica transdisciplinar e abrangente.

Além disso, não orientamos os professores para um novo processo pedagógico, que está exigindo cada vez mais o trabalho em grupo, a realização de atividades presenciais orientadas, o estímulo ao auto estudo, numa época em que ficou mais fácil chegar a informação. Hoje os acessos ao Google são superiores a 90 bilhões por mês, dos quais cerca de 15% com expressões nunca antes utilizadas.

Quantos dos nossos professores de ciências tiveram contato com as novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC)? Há ainda quem entenda que elas interessam exclusivamente aos que vão trabalhar no âmbito da educação a distância, o que consiste num gravíssimo equívoco, pois sem elas não se pode construir um ensino participativo, com o deslocamento do ensino-aprendizagem da informação unidirecional do professor para o aluno.

Enquanto isso, passamos os anos a discutir, sem concluir, a reforma do ensino médio. Já são mais de 20 anos. Tomara que este resultado do PISA nos motive e nos pressione para mudanças necessárias e urgentes.

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