quinta-feira, 14 de julho de 2016

O mutirão de limpeza

Algo muito grave está acontecendo na UERJ, um verdadeiro escândalo, ainda que situações tão ou mais sérias também ocorram por todas as instituições de ensino público. Vamos aos fatos: soube por intermédio de amigos da minha irmã (bióloga, pesquisadora e professora nos EUA) que no campus do Maracanã, no prédio conhecido como “Haroldinho”, professores e alunos se uniram em mutirão para fazer limpeza. Faxina geral: varredura das folhas nas ruas e calçadas; higienização de salas, corredores e até mesmo dos banheiros. De acordo com as informações, cerca de 500 funcionários da terceirizada que fariam o serviço, sem salário há meses, foram demitidos pelo fato de a empresa não receber os repasses. E novo contrato se arrasta pela burocracia ou por falta de interessados (o que não seria surpresa).

Mesmo reconhecendo o louvor da iniciativa, ela tem o poder de um analgésico para tratar o câncer. Depois do mutirão, por alguns dias, alunos, mestre e funcionários ganham a sensação de que a normalidade está restaurada, há prazer em andar pelo campus, o ânimo é outro. Dificilmente, porém, a ordem se restabelece antes de o caos retornar. Os que colocaram a mão nos baldes e vassouras não têm o poder de mudar o quadro, e a limpeza se transforma no que sempre foi: um grito de alerta.

Natural seria os mestres reivindicando novas verbas para pesquisa, cooperação com instituições estrangeiras, fomento à inovação, laboratórios cada vez mais equipados. Estudantes, igualmente, cerrariam fileiras por qualificação do corpo docente, bolsas de estudos aos mais promissores, intercâmbio. Quando rogam por papel higiênico, salas limpas e calçadas varridas, vislumbram a distância entre o ideal e o possível. E se desesperam.


Na raiva, chego a imaginar escalarmos Governador, Secretários de Estado, Reitor e Diretores dos institutos para limpar os banheiros. Ah, que delícia! Com isso, aposto que eles dariam um jeito na falta de faxina rapidinho. Mas ninguém, muito menos eu, quer equipe de limpeza tão cara como estes nobres senhores e senhoras custam ao povo. O justo – o mínimo? – é esperarmos dos administradores competência e honestidade. Honradez, decência, comprometimento. Vergonha.

Caríssimos mestres e alunos da UERJ e de outras universidades públicas, parabéns pela iniciativa e resistência. Deposito aqui minha solidariedade. Agora, atenção: há muita sujeira escapando da vista, na espera de outra espécie de lavagem.

Rubem Penz

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