Mesmo reconhecendo o louvor da iniciativa, ela tem o poder de um analgésico para tratar o câncer. Depois do mutirão, por alguns dias, alunos, mestre e funcionários ganham a sensação de que a normalidade está restaurada, há prazer em andar pelo campus, o ânimo é outro. Dificilmente, porém, a ordem se restabelece antes de o caos retornar. Os que colocaram a mão nos baldes e vassouras não têm o poder de mudar o quadro, e a limpeza se transforma no que sempre foi: um grito de alerta.
Natural seria os mestres reivindicando novas verbas para pesquisa, cooperação com instituições estrangeiras, fomento à inovação, laboratórios cada vez mais equipados. Estudantes, igualmente, cerrariam fileiras por qualificação do corpo docente, bolsas de estudos aos mais promissores, intercâmbio. Quando rogam por papel higiênico, salas limpas e calçadas varridas, vislumbram a distância entre o ideal e o possível. E se desesperam.
Na raiva, chego a imaginar escalarmos Governador, Secretários de Estado, Reitor e Diretores dos institutos para limpar os banheiros. Ah, que delícia! Com isso, aposto que eles dariam um jeito na falta de faxina rapidinho. Mas ninguém, muito menos eu, quer equipe de limpeza tão cara como estes nobres senhores e senhoras custam ao povo. O justo – o mínimo? – é esperarmos dos administradores competência e honestidade. Honradez, decência, comprometimento. Vergonha.
Caríssimos mestres e alunos da UERJ e de outras universidades públicas, parabéns pela iniciativa e resistência. Deposito aqui minha solidariedade. Agora, atenção: há muita sujeira escapando da vista, na espera de outra espécie de lavagem.
Rubem Penz
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