Mais do que isso! Anuncio: “Estamos juntos, companheiro! Conto com você para levar às ruas milhares de pessoas que pensam como eu. Sem a inestimável colaboração das esquerdas e sua contribuição milionária — ou melhor: bilionária — para todos os erros, não teríamos ido tão longe. Não fossem vocês, é pouco provável que conseguíssemos nos livrar de Eduardo Cunha e Dilma Rousseff a um só tempo”.
Por que isso tudo? Já explico. Antes, algumas considerações.
Grupos que fizeram a defesa do impeachment de Dilma — como MBL (Movimento Brasil Livre), Vem Pra Rua e Nas Ruas — marcaram um protesto, que eu diria propositivo, para o dia 31 de julho, que é, como de hábito com gente ocupada, um domingo.
Chamo de protesto propositivo porque, com efeito, estarão nas ruas para reforçar o seu apoio ao impeachment, mas também para apresentar reivindicações ao governo Temer. O MBL quer, entre outras coisas, que o Planalto encampe a defesa do fim do foro especial por prerrogativa de função — tese que não aprovo, diga-se —, a privatização dos Correios e da Petrobras e a expulsão da Venezuela do Mercosul. Apoio e aplaudo.
O Vem Pra Rua vai marchar em defesa da Lava-Jato e em apoio às 10 Medidas Contra a Corrupção propostas pelo Ministério Público — noto: algumas são boas; outras são fascistoides. Mas não entro agora no mérito das minhas divergências com os movimentos.
O fato é que eles são, sim, defensores do impeachment e de sua legalidade e legitimidade. Vão às ruas para deixar claro ao Senado que estão vigilantes — afinal, sabem que não é tarefa trivial conquistar ali pelos menos 54 votos —, mas também cobrar avanços na agenda que saiu vitoriosa nas ruas — já que Dilma destruiu aquela que venceu nas urnas.
É claro que as ruas estão um tantinho frias, não é? Vivemos um mês de férias escolares. Poucos acreditam que Dilma possa voltar, e o governo Temer, dada a sua natureza, não é do tipo estridente, que convoca manifestações passionais — nem contrárias, é bom notar.
Eu estava até um pouco temeroso, sabem?, de que a manifestação pudesse ser meio acanhada, a despeito do esforço valoroso desses grupos. Mas tudo mudou.
Fico sabendo que Gilherme Boulos e seus amiguinhos de esquerda decidiram, ora vejam!, do alto de sua conhecida irresponsabilidade, convocar uma manifestação para o mesmo dia 31. Lembrando seus tempos de burguesinho birrento, preferido das tias, Boulos raciocina: “Ninguém é dono da rua. Nós temos direito de manifestação e vamos exercê-lo. Espero que a polícia nos trate da mesma forma que trata a turma de verde e amarelo na Paulista”.
É uma provocação barata. A manifestação dos movimentos pró-impeachment está marcada há mais de um mês. O Senado julgará Dilma no fim de agosto. Se Boulos agora decidiu dar tarefa a seus desocupados também num domingo — as esquerdas costumam protestar só em dias úteis, para infernizar a vida de terceiros —, há outros a escolher no calendário.
É claro que coisas assim são desaconselháveis. O protesto contra Dilma e em favor de uma pauta para o governo Temer está marcado para a Paulista. As esquerdas pretendem se encontrar no Largo da Batata, subir a Rebouças e descer a Consolação, passando a poucos metros de distância de sus antípodas. Mais: é grande a chance de grupos de um lado e de outro cruzarem suas bandeiras em ônibus e metrôs.
Esquerdistas são treinados em arruaça e em confronto. A conversa mole de Lula de que se deve abordar um “coxinha”, como ele disse, com carinho é pura ironia troglodita. Ele sabe que as coisas não funcionam desse modo. Se os militantes de Boulos não obtiverem autorização para subir a Rebouças e descer a Consolação, as forças de Segurança do Estado estarão apenas cumprindo o seu dever. São Paulo não é o gramado do Congresso.
Mas esperem: este era e continua a ser um texto de agradecimento a Boulos. Faltava um elemento a mais que pudesse dar ânimo aos militantes pró-impeachment. Agora já temos. Esse rapaz vem nos lembrar de que “os urubus continuam passeando entre os girassóis”. E que é mais necessário do que nunca combatê-los e vencê-los.
Dentro da lei e em ordem. Uma defesa que eles, obviamente, não podem fazer porque isso é coisa de coxinha. Felizmente!
Ah, sim: Kim Kataguiri, um dos coordenadores do MBL, explica à Folha a natureza do dia 31: “Nossas manifestações, de nenhuma maneira, foram uma espécie de ‘Vai lá, Temer, tome o poder’. O Temer é uma consequência constitucional [do processo de impeachment]. O ato será para pressionar por reforma”.
É isso. Sem pressão, amiguinhos, não acontece nada!
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