A UPP chegou à Rocinha em 2011, e muita coisa mudou, inicialmente, na rotina dos moradores. Na primeira reunião, dias depois da ocupação, o comando do Bope convocou a população para anunciar as principais “regras" que passariam a vigorar na favela. Exigência de capacete, habilitação e documento do veículo para a circulação de motos; estabelecimento da lei do silêncio (nada de música alta depois das 22h); e obrigatoriedade de autorização da prefeitura e do Corpo de Bombeiros para realização de festas públicas. Em resumo, regras que valiam para a cidade, e que antes não valiam para a Rocinha, precisariam ser cumpridas. Até aí, tudo bem.
O problema é que a “legalização do território” parou nisso. A legislação urbanística, existente para o resto da cidade, nunca foi estabelecida. Local para o comércio, residências, escolas, horários de funcionamento de equipamentos de lazer, saúde — nada disso foi discutido com a população. Assim, uma fonte permanente de conflitos — briga de vizinhos, por exemplo — ainda é resolvida pela ditadura do “nada pode”.
Apesar da prisão de vários chefes do tráfico, da apreensão de um verdadeiro arsenal de armas sofisticadas e toneladas de drogas, o que ainda se vê nas ruas são pessoas desesperadamente necessitadas: gente vivendo da droga, pela droga e para a droga. Sem atendimento de qualquer espécie.
Existe um outro fator preponderante em toda a questão. Um chefe de quadrilha tem que ser levado preso, mas sob garantia de um sistema prisional que o recupere e o ressocialize. Um homem ressocializado tem um efeito positivo tão bombástico na comunidade, talvez até maior que a implantação de uma UPP. Essa recuperação desfaz preconceitos disseminados, principalmente nas crianças. Derrotar um ser humano apenas não basta para nos trazer a felicidade e a paz.
Hoje, perto de chegar aos dez anos depois da primeira UPP, continuamos a perguntar: quais são as leis das favelas?
William de Oliveira
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