Depois da apresentação de Aleida, os discípulos que estavam lá para ouvir a palavra do mestre foram consolados pela declaração de guerra ao imperialismo ianque berrada por João Pedro Stédile e por uma discurseira do prefeito Washington Quaquá, patrocinador do encontro de utópicos. Quaquá explicou que, por ter sido concebido para discutir alternativas para o capitalismo, “é obvio que o festival ganhou características de resistência ao golpe”. Em seguida, tentou inutilmente animar os companheiros gritando o previsível “Fora, Temer!”
A abertura anêmica puxou a procissão dos coadjuvantes de quinta categoria e veteranos canastrões que passaram nos dias seguintes pela Tenda dos Pensadores. A deputada Jandira Feghali, por exemplo, discorreu sobre a modernidade do PCdoB. O deputado federal Jean Wyllys celebrou o crescimento do PSOL e condenou à danação eterna os preconceituosos que não dão sossego a minorias majoritárias. O ex-senador Eduardo Suplicy reiterou que descobriu há muito tempo a cura para todos os males do Brasil. Chama-se Renda Mínima.
Embora o resto do Brasil ignorasse o que aconteceria em Maricá, o filme que divulgou o festival (acima) garantiu que a cidade fluminense seria o palco de uma espécie de Woodstock bolivariano, com muita música boa, muita dança moderníssima, muita arte revolucionária, além de esclarecedoras discussões entre jovens engajados e experientes pensadores, unidos na perseguição a um mundo melhor. O vídeo abaixo, que registra alguns momentos do primeiro dia, informa que a promessa dificilmente seria cumprida.
Os organizadores da quermesse esquerdista ainda acreditam que, neste sábado, Dilma Rousseff apareça em Maricá para encerrar o festival com uma caminhada pela cidade governada por Quaquá. Mas a presidente despejada do Planalto decerto seguirá o exemplo de Lula, que atribuiu o sumiço a vagos “compromissos em Brasília”. Muito mais provável é que tenha lembrado o que ouviu de Eduardo Paes em março deste ano.
Numa conversa grampeada pela Polícia Federal, o prefeito do Rio premiou o amigo Lula com um surto de sinceridade. “O senhor é uma alma de pobre”, disse Paes no meio da ligação, ao entrar na história do sítio que Lula jura não ter em Atibaia. “Eu falo o seguinte: imagina se fosse aqui no Rio esse sítio dele, não é em Petrópolis, não é em Itaipava. É como se fosse em Maricá. É uma merda de lugar, porra”.
Lula parece ter levado a sério o conselho de Paes.
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