terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Flácidos solilóquios

Olhando de longe, parece confusão. De perto, é confusão. Muito barulho. Ou ruídos apenas. É ajuntamento de instrumentos sem formar orquestra. Vozes que não formam coral. Acusações e desentendimentos. Brigas. É a isso que tudo foi reduzido. Nenhuma luz. Muito calor.

A cada discussão improdutiva, os adjetivos tem mais destaque. Mais importância. Constroem menos, mas constrangem (ou tentam constranger) mais. Tanta preocupação com a forma denuncia ausência completa de conteúdo.

Tudo consequência do desconforto com a diversidade de opiniões. Excesso de certezas. Falta de debate. Primitivismo. Nas noticias. No noticiário. Nas mídias sociais. Por toda parte. Até onde alcança a vista. Ou até onde aguentam os ouvidos.

Viver é fazer escolhas. Por isso é natural que existam opiniões divergentes. E é condição necessária que cada sociedade escolha métodos e maneiras de lidar com estas divergências. Intolerância é apenas um deles. E dos mais ineficientes.

Sociedades mais desenvolvidas reconhecem a existência de divergências. E lidam com elas produtivamente. Reconhecem que diversidade não é caos. E que caos não é bom para ninguém. Investem em regras, escritas ou não, para regular e resolver disputas, sempre tentando considerar e conciliar crenças e interesses divergentes. Diversidade de opinião vira oportunidade.

Reconhecer diferenças e o direito a elas. Mas começam a convivência identificando as similaridades. Sem isto, coexistência é impossível. Afinal, não se convive apenas ressaltando as discordâncias. Dialogo se constrói através do reconhecimento de que existem também consensos.

Entre os consensos, talvez os mais importantes sejam aqueles que determinam as regras do jogo. Ou seja, estabelecem o que pode e o que não pode ser feito. São impessoais, universais, independentes de valores ou crenças.

Regras claras e aceitas aprofundam o conteúdo e elevam a qualidade da discussão. Não condicionam quem deve ou não deve ser punido de acordo com conveniências ou interesses mutáveis ou imutáveis. Focam isto sim, nos comportamentos que devem ser coibidos, independente (ou apesar) de seus autores.

São estas regras que nos faltam. Sem elas, tudo é confusão, caos, ruído. Discussões estéreis. Flácidos solilóquios que sequer fazem dormitar o bovino.

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