A “Pesquisa Brasileira de Media” revela que apenas um em cada cinco brasileiros lê jornais, e menos de um em cada dez o faz diariamente. Isso não quer dizer que a população seja desinformada. No Brasil, metade dos lares está conectada à internet, e 81,5 milhões de pessoas navegam pelo celular – o segundo eletrônico mais comum nas casas do país, apenas atrás da TV. E, para 10% da população, segundo o Instituto Reuters para Estudo do Jornalismo, mídia social é a principal fonte de acesso a notícias (jornais respondem por 4%).
Esse consumo nem sempre é intencional. O American Press Institute revela que dois terços dos jovens entre 18 e 34 anos diariamente acessam notícias online, que chegam a eles por meio de perfis de amigos nas redes sociais. É nesse ponto que as coisas se complicam.
No Facebook, por exemplo, os usuários têm acesso a 1.500 mensagens, em média, por dia, mas só têm tempo para ver 300. Para que essas poucas centenas sejam as mais interessantes, entram em cena algoritmos matemáticos que selecionam assuntos de acordo com perfil, histórico de navegação, presença de fotos ou vídeos e, mais recentemente, pela colaboração de pessoas pagas para usar o Facebook e oferecer um feedback da eficiência desses filtros.
Uma consequência é que os usuários ficam menos expostos a opiniões diferentes das suas. Um estudo publicado na revista “Science”, em maio de 2015, mostra que os entrevistados identificados como “progressistas” são expostos a 24% de conteúdo diverso de sua crença, enquanto, para os “conservadores”, o índice era de 35%.
Não que a internet seja má ou uma “Matrix” que controle a que informações as pessoas poderão ter acesso. São as escolhas individuais que definem o conteúdo, não a partir da utilidade da informação, mas de quanto ela é agradável. Não confrontado por ideias diversas das suas, o usuário é livre para se aferrar a preconceitos e radicalismos. Num processo em que não faltam hedonismo e narcisismo, somos cada vez mais agentes de nossa própria ignorância.
Cabe-nos ser leitores críticos, seja nas mídias tradicionais ou nas digitais, buscar fontes de informação confiáveis e precisas, bem como nos abrirmos a argumentos que questionem nossas crenças antes de formarmos opinião e, principalmente, de agirmos. Mas isso, nosso individualismo não mostra.
Frederico Duboc
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