Definitivamente, o PT disse adeus à sanidade. Ao que tudo indica, o partido comandado por Lula concluiu de forma irrevogável que recorrer à publicações de resoluções delirantes é o bastante para justificar as falcatruas perpetradas por seus líderes desonestos e purificar o caráter tíbio de seus tesoureiros corruptos. Arrogantes por natureza, suas lideranças menosprezam as consequências de suas decisões e, através de seus lacaios, usam desse expediente para buscar impor a pauta de sua ensandecida jornada contra o regime democrático, elegendo prioridades digamos, pouco republicanas, como:
a) construção de uma frente político-social unindo o partido, os sindicatos e o MST;
b) a convocação da bolivariana constituinte exclusiva destinada a efetuar a reforma política;
c) do alto dos quase 120 milhões de reais que deverão sair dos cofres públicos para abarrotar seus cofres através de recursos repassados pelo fundo partidário, estratégica e pornograficamente triplicado recentemente por decisão da presidente Dilma Rousseff, posa de virgem purificada reforçando a pregação do desgastado discurso defendendo o financiamento público de campanha. Como afirmou o ex-ministro Joaquim Barbosa “com um repasse desses, quem precisa ser financiado por empresas?”.
d) esperto, defende o voto em lista, que na prática cassa dos brasileiros o direito de escolher seus deputados. Populista, aposta na desmoralizada arenga da luta de classes apresentando medidas penalizando aqueles que julgarem ricos. Menos seus líderes e os amigos dos seus líderes, é óbvio;
e) mobilização contra o PL 4330, das terceirizações, o que só é bom para os sindicalistas, e
f) mobilização contra as PECs 371, que trata da redução da maioridade penal e é do interesse, antes de tudo, da bandidagem e 215, que dá ao Legislativo uma participação mais efetiva na demarcação de terras indígenas, que é do agrado dos picaretas.
O desvario petista, salvo engano, retomou, com mais vigor, a temporada de ódio à democracia. Uma leitura mais minuciosa do conjunto da obra do partido estrelado ao longo desses mais de doze anos à frente da política brasileira e do tom sempre belicoso adotado por suas lideranças nos comunicados oficiais, permitem vislumbrar nas entrelinhas uma advertência sombria caso seja apeado do poder, chamando atenção para a possibilidade de uma ruptura marcada por dias de tensão, cujo desenlace poderá desembocar em grave retrocesso democrático. Estampa, ainda, nuances da fragmentação de um partido político que não suportou a grandeza democrática que jamais teve e sobrevive da ética diminuta que sempre o acompanhou. Sua trajetória conturbada fala por si.
Cansada da mesmice política que predominava no período pós-ditadura, e guardando a esperança de que algo inovador se apresentasse, a sociedade brasileira se pegou encantada com a mensagem muito bem articulada de um partido que, comandado por um ex-trabalhador, se intitulava o emissário do Brasil renovado, senhor de todas as virtudes, arauto da magnificência administrativa e cidadela indevassável da retidão. Para convencer os eleitores que a salvação do Brasil passaria inexoravelmente pelo virtuosismo petista, seus dirigentes não desperdiçaram uma única oportunidade de ocuparem os espaços generosos que a mídia lhes proporcionava. Astutos, foram preenchendo o vácuo político que se formou depois da morte do presidente Tancredo Neves entrincheirando-se na mais selvagem oposição que o Congresso já abrigou. A desestabilização a qualquer preço era o mote. E a tática mostrou-se eficaz: em janeiro de 2003, o PT chegou ao poder.
Forjada na têmpera podre da falsidade, a decantada probidade dos petistas não resistiu a mais do que dois anos à frente do governo. Os rastros deixados pelo dinheiro sujo derrubou a máscara que escondia a verdadeira face dos democratas de araque e deu visibilidade a ação devastadora da mais sórdida canalha instalada nos porões da politicalha. Visando perpetuar-se no poder, os companheiros atuaram com a desenvoltura dos cafajestes e arquitetaram um dos mais atrevidos esquemas de corrupção da história republicana cujo sucesso passava necessariamente pela compra do apoio de partidos que porventura estivessem à venda. Talvez até mesmo os próprios petistas tenham se surpreendido com disponibilidade tamanha. Estava inaugurado o mensalão.
A partir desse episódio que manchará sua história para sempre, o partido estrelado experimentou um processo célere de degeneração e o desgaste evidente serviu de justificativa para que seus dirigentes intensificassem uma campanha avassaladora que tinha como objetivo a dominação absoluta. Para atingir tal fim, os meios, liberados, encontraram na receita da promiscuidade o fermento mais indicado para fazer crescer aquela massa indigesta. Sem o menor trauma de consciência, cercaram-se de inimigos viscerais para inaugurar a forma mais abjeta de amizade, trouxeram para debaixo de suas asas parte significativa da imprensa e fizeram da miséria seu maior trunfo eleitoral. Dispostos a percorrer as últimas instâncias da inconsequência, desbravaram os caminhos da corrupção como ninguém jamais ousara.
Num repente, encantaram-se com a biografia de José Sarney e o consagraram como político respeitável. Este, por sua vez, fez do Maranhão uma extensão do palanque petista e da presidência do Senado reduto dos interesses do governo federal. Uma mão suja emporcalha a outra. Defensores intransigentes da liberdade de imprensa a favor, se dispuseram a patrocinar jornais televisivos, principalmente os de alcance nacional, e blogs na internet abrindo os cofres das estatais e dos ministérios.
Embora viesse a ser reconhecido alguns anos depois como projeto embrionário que abriria o caminho para o bilionário esquema de corrupção batizado como Petrolão, evento que feriu com gravidade e enlameou um dos principais símbolos do orgulho nacional, ainda assim o episódio do mensalão serviu para desencadear um vendaval de denúncias envolvendo o partido comandado pelo ex-presidente Lula e aqueles que formavam a base de apoio ao seu governo em um rosário interminável de falcatruas, cujo acúmulo de malfeitos resultou na queda de quase duas dezenas de ministros de Estado em menos de dez anos. Muitos deles exonerados por envolvimento em casos de corrupção. Pelo menos um, condenado e preso.
Em pouco mais de doze anos, o Partido dos Trabalhadores conseguiu transformar o propalado conjunto de políticos notáveis acima de qualquer suspeita que o mantinha em mero ajuntamento de notórios trambiqueiros, abaixo de qualquer moral, que o sustenta. O PT como ele é.
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