domingo, 12 de abril de 2015

Com Temer na articulação, Dilma dorme com o inimigo


A rápida viagem do vice-presidente Michel Temer a São Paulo, quinta-feira, para se encontrar com o ex-presidente Lula, tem um significado muito importante. Demonstra que Temer sabe quem realmente está no comando, pois é evidente que o fracasso fez Dilma Rousseff desistir de tocar o governo sozinha e aceitar novamente Lula à frente de tudo, como ocorreu nos primeiros dois anos do mandato inicial dela.

Para uma pessoa pretensiosa e arrogante como Dilma Vana Rousseff, ter de se curvar perante Lula é uma espécie de interminável Via Crucis, que ela precisará suportar durante quase quatro anos, caso consiga permanecer no cargo, o que já parece altamente improvável.

Temer é um profissional da política. Embora nunca tenha sido bom de voto, conseguiu construir uma sólida carreira, iniciada como secretário de Segurança Pública de São Paulo, em 1985. No ano seguinte, elegeu-se deputado constituinte pelo PMDB e depois seguiu se reelegendo, tendo sido presidente da Câmara em três oportunidades. Na eleição de 2006 ficou como primeiro suplente, mas acabou conseguindo uma maneira de assumir o mandato que o levaria à vice-presidência da República em 2010 e 2014.

Pode não ser bom de voto, mas em matéria de bastidores é um grande mestre do ilusionismo. A tal ponto que conseguiu fazer com que Dilma e Lula sonhem que podem contar com ele para reestruturar a base aliada e dar uma sobrevida ao governo e ao PT. Sonhar ainda não é proibido, mas tudo tem limite.

Os fatos são incontestáveis. A presidente Dilma já não dispõe de apoio popular, foi eleita por um partido em decadência vertiginosa e atolado num oceano de lama, a crise econômica e social não tem a menor chance de ser resolvida a curto prazo e a ameaça de impeachment aumenta progressivamente.

Pois em meio a este quadro sinistro, a solução encontrada por Dilma foi entregar a articulação política justamente ao vice-presidente Temer, que é de outro partido e pode ser o grande beneficiário da derrocada do governo, pois assumirá o poder em caso de impeachment ou renúncia.

Sinceramente, é muita ingenuidade e até primarismo político achar que Michel Temer, aos 74 anos, vai abandonar o futuro que lhe resta, a pretexto de garantir a preservação de uma companheira de chapa que jamais lhe deu o menor prestígio e apoio. Na verdade, do alto de sua prepotência, Dilma Rousseff sempre fez questão de manter Temer numa espécie de freezer político. Foram quatro longos anos dentro do congelador, sofrendo um desprezo muito difícil de ser esquecido.

Agora, o poder já não está com Dilma, nem com Lula ou com o PT. Quem dá as cartas na política são os três mosqueteiros do PMDB – Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Mas exatamente como acontece no romance de Alexandre Dumas, no qual os três mosqueteiros na verdade são quatro, a história se repete em Brasília, com a participação ostensiva do ex-deputado Henrique Eduardo Alves nas decisões do PMDB. Desde a posse de Dilma, em 1º de janeiro, Alves não tira os pés da capital e será nomeado ministro nos próximos dias.

Detalhe final: em política, jamais se pode dizer que exista vácuo de poder. Quando o pseudo detentor do poder revela fraqueza, seu espaço é imediatamente ocupado por algum adversário. Por isso, Temer não deve ser considerado aliado do PT, do governo, de Dilma ou de Lula. Ele trabalha exclusivamente para ele mesmo e para o PMDB, partido que ainda preside. O resto é folclore político e delírio de afogado, que tenta se abraçar a um tubarão para não submergir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário