Em certos momentos tudo parece ser inconsolável, mas consolo há. Sempre. Como os faiscantes brilhos tingem a água de ouro, chegará o momento em que a luz mais tênue dará cor e profundidade ao oceano. Debaixo do espelho aparecerá um mundo de cores e de seres fantásticos que ignoram o que está acima. Os manacás no jardim hoje cheiram como nunca, mais ainda ao entardecer, e chamam atenção pela “inteligência” que neles se encontra. As potestades divinas que os sustentam, que brincam com eles como um músico brinca com seu instrumento, fornecem o testemunho da incalculável inteligência que melhora a natureza.
Em cada centímetro quadrado desse mundo se esconde o universo, e se aprendermos a notar o que tudo liga e interliga, inclusive os homens uns aos outros, poderemos ler o céu, as cartas e a palma da mão, poderemos ter explicação dos eventos, ler o passado, entender o presente e pressentir o futuro.
Quando as pessoas começam a usar enganos como facilitações e os criam em benefício próprio, estão perto de se perder. Os enganos enganam em todos os sentidos, a começar por quem os cria.Nunca revele, dizem os sábios, mais do que o necessário a um despreparado, a um estulto que por vias tortas quer chegar à afirmação de si. Esse, se chegar, não terá proveito, deixará oca sua lembrança, ou ela ficará marcada de negatividade.
É temerário dizer ao porco, que naturalmente gosta de seu semelhante, que existe maior beleza em outras raças, ainda explicar-lhe que o porco fede e chafurda em fezes. Ele se sentirá ofendido. Explicará, em seguida, aos outros porcos que todos eles são porcos e desagradáveis para o resto da humanidade. Nenhum deles entenderá, e todos juntos se armarão.
Portanto, nunca explique a ele o que faz dele um animal de pouca estima, não diga que sua prole é desafortunada em relação a outra. Pois o porco se invocará. Ele ainda atiçará na raça o sentido de injustiçado, que é absolutamente enganador. Porco é porco, apenas não pode ser lembrado de ser porco.
Este tem que ser mantido onde ele pode chafurdar, excluído de ambiente mais urbano. Pois vale o ditado de que “quem com porco anda farelo come”.
Também não explique a quem cometeu erros que esses fazem parte de sua derrota. Considerará a amigável e correta observação como fosse uma afronta.
Não fale mais que o necessário e deixe o silêncio executar inexoravelmente o que apenas a ele cabe. Do silêncio nascemos e no silêncio acabaremos. Findam-se ciclos, e outros nascem das ruínas.
Assim como quem perde uma luta e encontra a “principal” culpa nos outros, sem considerar a axiomática verdade de que cada um é artífice da sua sorte, não vale a pena informá-lo de seus erros. Muitas vezes, em vez de agradecer pela crítica, quem é estulto resvala na vingança contra quem lhe revelou o caminho certo.
Existem pessoas que fundamentalmente desconfiam de serem inferiores, não se resignam a esse papel, querem fraudar a realidade e vivem abatendo e capinando o que está em volta para se sobressaírem. Isso é o que mais acontece com a humanidade, e os resultados estão nesse incrível desconforto moral e social em que precipitamos.
Vittorio Medioli
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