sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ladrões assaltaram a Petrobras e desestabilizaram o governo


Em política, aliás na vida em geral, não basta ver o fato. É preciso ver no fato: qual o seu conteúdo mais amplo do que o aparente, suas implicações, seus reflexos que às vezes se alonga no tempo. Refiro-me, como está no título, às ações conjuntas de um bando de ladrões que, além de roubarem bilhões (em dólares e reais), contribuíram, com os assaltos praticados, para desestabilizar politicamente o governo.

Não pode ser outra a interpretação dos capítulos em série que vêm manchetando os jornais, cujo desfecho ocorreu na tarde de terça-feira, quando, enfim, a presidente Dilma Rousseff anunciou a demissão de Graça Foster e a substituição de toda a atual diretoria da Petrobrás. Graça Foster não esperou o período pedido pela presidente e renunciou juntamente com cinco diretores, os quais não foram nominados.

A desestabilização do governo ficou caracterizada em dois fatos adicionais à demissão de Graça Foster: Dilma Rousseff, encarregou o ministro Joaquim Levy e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, de procurarem no mercado nomes capazes de substituir Graça Foster. Isso acreditando que ela, Graça Foster, fosse permanecer por mais algum tempo. Isso de um lado. De outro, a troca da diretoria da Petrobrás só deveria ocorrer depois da publicação do balanço da empresa devidamente auditado. Sim, porque o que foi publicado há uma semana foi na verdade um relatório. No qual Graça Foster calculou em aproximadamente 88 bilhões de reais o prejuízo ocorrido em consequência da corrupção desenfreada que fez submergir a estatal abalando seriamente o Planalto.

A meu ver, a demissão não deveria estar condicionada à publicação do balanço, pois se tal não fosse feita, a nova diretoria teria que fazê-lo obrigatoriamente. Neste caso, focalizando de forma mais exata os prejuízos causados pelo maremoto da corrupção e seus efeitos na reavaliação dos ativos da empresa. Foi convocada uma reunião para sexta-feira do Conselho de Administração. O afastamento de Graça Foster teve repercussão colossal, mas não altera a análise a respeito do abalo que o governo sofreu nos seus alicerces. Principalmente porque o país não conhecia em sua história roubos praticados em série, reunindo tantos atores, como os que houve na Petrobrás.

E ninguém sabia de nada? Nenhum ex-diretor tinha conhecimento do que se passava? Para sublinhar pelo menos a omissão, vale recordar uma frase de Einstein: o que existe aparece. As ações desabaram na Bovespa, proporcionando um verdadeiro paraíso para os especuladores que, agora, encontraram a “sorte” de usarem argumentos para forçar a queda dos papéis, comprá-los a preços baixos e, no lance seguinte, revendê-los a preços mais altos. Para identificar a manobra financeira, legal mas não moral, basta verificar suas presenças nos pregões. Como sempre. Porém, este é outro assunto.

O essencial é concluir que, em todo esse redemoinho, Dilma Rousseff perdeu parcelas de seu poder político. Pois, assim não fosse, não delegaria a Joaquim Levy e Alexandre Tombini a tarefa de pesquisar no mercado nomes capazes (e capacitados) de assumir a maior empresa brasileira. Ela mesma o faria. Afinal de contas, a responsabilidade de nomear é sua. Aliás, intransferível.

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