sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Estamos à deriva
A saída não é jogar o comandante ao mar, nem o comandante ficar aferrado ao leme, sem reconhecer seus erros, indeciso e sem saber para onde levar o imenso barco
A leitura da imprensa e as conversas com as pessoas passam a sensação de que o País está à deriva, sem um rumo conhecido.
Os dados caóticos da economia, provocados por medidas irresponsáveis ao longo dos anos, apesar de todos os alertas esnobados pela euforia das ilusões criadas; a decepção com as mensagens otimistas que não se verificam em relação ao Pre-Sal, a Copa, os programas sociais; a perplexidade e a vergonha com a corrupção generalizada, com os escândalos repetidos, com os bilhões roubados, com a irresponsabilidade como a Petrobras, a Eletrobras e outras estatais foram administradas; o inconformismo com a traição da mudança radical do discurso eleitoral e para as medidas dos ajustes poucos dias depois.
Tudo isso passa a sensação de à deriva.
Mais grave é que não se vê alternativa. O governo está apenas começando depois de doze anos, sem a lua de mel de um novo mandato e com a perspectiva de ainda quatro longos anos.
E o Congresso, para onde a opinião pública deveria estar olhando em busca de um rumo, está demonstrando um total descaso com a crise, despreparado para enfrentar os desafios da história, perdido entre brigas menores, com um presidente que nesse momento crítico abre mão de seu papel de coordenador das forças parlamentares e prefere assumir a chefia de uma facção partidária a seu serviço.
A deriva termina provocando a tormenta no mar do povo indignado com a corrupção, a incompetência e o autoritarismo. Parece que as lideranças continuamos ignorando as mobilizações de 2013, sem percebermos que o povo que foi às ruas está esperando que uma faísca provoque mobilizações ainda maiores e com propósitos mais radicais.
O Brasil precisa encontrar um rumo por meio de um diálogo de suas lideranças que entendam a gravidade do momento, percebam a deriva em que estamos . O primeiro passo deveria ser dado pela presidente da república. Ela precisa fazer uma autocrítica, parar com a euforia, sair do marketing, pedir auxílio inclusive à oposição. E percebendo-se sinceridade e seriedade, todos devemos dialogar.
A deriva não leva a bom destino. Mas a saída não é jogar o comandante ao mar, nem o comandante ficar aferrado ao leme, sem reconhecer seus erros, indeciso e sem saber para onde levar o imenso barco chamado Brasil.
Cristovam Buarque
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