Os números são trágicos e não só para o governo e sua chefe, destacando-se o mais contundente deles: em dois meses a popularidade de Dilma Rousseff caiu de 42 para 24%. O precipício ficará mais fundo se acrescentarmos que 77% dos consultados pelo Datafolha opinaram que a presidente sabia dos escândalos na Petrobras.
Importa, mais do que as causas, prospectar as consequências. A queda determinará mudanças no comportamento da presidente e do governo? Parece que não, pois certamente os baixos índices de avaliação de Dilma já eram detectados faz mais do que sessenta dias. Longe de ir adaptando posturas, conceitos e programas, ela nada fez, como não fará, em termos de alteração de posturas e de rumos. O diabo é que se mantiver as diretrizes rejeitadas pela opinião pública, mais despencará. A forma imperial de dirigir o país, julgando-se dona de todas as verdades e instância decisória única, é a responsável maior pela débâcle.
Como, pelo jeito, nada vai mudar, vale concluir que a rejeição agora constatada se transformará em repúdio. Depois, em indignação. Menos pela hipótese de imediatas manifestações virulentas nas ruas, mais pelo sentimento de desprezo da sociedade diante de quem deveria conduzi-la – o lógico é aguardar a ruptura. Continuam atuais as palavras do então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, às vésperas da defenestração de Fernando Collor da presidência da República: “O que o povo quer, esta casa acaba querendo”.
Vai crescer no Congresso e fora dele a proposta do impeachment de Dilma, possibilidade cada vez menos distante, ainda que por enquanto inviável. Uma fagulha que seja, por exemplo causada pela lista do procurador-geral, poderá acender o rastilho até o barril de pólvora.
O grave na última pesquisa do Datafolha está na extensão até outras instituições do repúdio à presidente Dilma e ao seu governo. Ainda mais na iminência da divulgação do nome de deputados e senadores, mesmo os não reeleitos, mais ex-governadores, ex-ministros, empresários e altos funcionários acusados de envolvimento na lambança da Petrobras. Balançam as estruturas do poder público, como efeito da pesquisa que atingiu a presidente e seu governo, julgados ruins ou péssimos por 44% dos cidadãos ouvidos. Tivesse a consulta chegado a todos os governadores e prefeitos, não apenas a Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, os resultados seriam quase os mesmos. Do Congresso, nem se fala. Sequer o Judiciário escaparia, apesar de mais preservado desde o mensalão e frente às expectativas do petrolão. Mesmo assim, o conjunto da obra dos tribunais e juízos inferiores não parece edificante. Sobram o Ministério Público e a Polícia Federal, insuficientes para sustentar as estruturas do poder público.
Carlos Chagas
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