quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A CPI de Deus


Como Ele é onipresente, onisciente e onipotente, estava na cara: logo, logo seria convocado a depor numa CPI.

Presidente da CPI: O senhor jura por Deus que vai dizer toda a verdade?

Deus: Ora, francamente. Direto às perguntas, por gentileza.

Presidente da CPI: Na criação do mundo, com o Senhor no papel de Todo-Poderoso, houve algum tipo de favorecimento a grupos ou empreiteiras?

Deus: Em absoluto. No princípio, não houve nenhum problema dessa ordem. Só bem mais tarde, quando deleguei o controle das verbas aos descendentes de Adão foi que aconteceram excessos.

Relator: Seja mais específico, por favor. Houve desvio de verbas?

Deus: Só naquele continente, a Atlântida. Mas Eu o afundei.

Presidente da CPI: E no episódio da arca? Dizem que Noé colocou animais protegidos dele no barco em detrimento de outros.

Deus: Noé era um bêbado. Mas não me envolvi na questão do dilúvio e da plantação da vinha, apesar de estar por dentro de tudo. Preferi mais uma vez descentralizar minha administração para não ser demonizado pelo Capeta.

Deputado: E o seu filho? Não seria uma forma de nepotismo Ele continuar suas obras?

Deus: Meu filho é um santo. Por que vocês não perdem essa mania de querer crucificá-lo?

Relator: Procede a informação de que o Senhor estaria por trás de tudo e de todos – o tempo todo?

Deus: Claro que procede.

(Um grande ohhhhhhh!! nas galerias)

Relator: Explique-se melhor, Senhor Deus.

Deus: Eu sei de tudo, sobre todo mundo. Mas mantenho o sigilo, evidentemente.

Deputado: O Senhor afirma que conhece tudo! E não vai abrir numa CPI? Lembre-se que está sob juramento. Não é porque se diz uma divindade que vai avacalhar as investigações!

Deus: Ok, ok. Eu abro então. Vossa Excelência, por exemplo, é freguês de uma cafetina aqui em Brasília. Foi lá nos dias 27, 28 e 29 de setembro. No primeiro dia ficou com a Suélen, nos outros com a Rúbia Regina. Fizeram hidromassagem e tal. Ah! E o relator ali trafica cocaína. Já o…

(Alvoroço nas galerias)

Presidente da CPI: Silêncio! Silêncio nas galerias! Guardas, prendam o deputado e o relator!

Deputado: Isso é uma calúnia, senhor presidente. Essa Pessoa vem aqui, se apresenta como deus, e me calunia assim?

Relator: Isso mesmo! Quem é esse Senhor pra vir dizer que eu cometi um crime?

Presidente da CPI: Infelizmente é a palavra de Deus contra a de vossas excelências. Algemas, algemas…

Carlos Castelo

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