Não propriamente pronunciamentos, que devem ser densos e profundos, mas pelo menos dois discursos protocolares a presidente Dilma deverá pronunciar na quinta-feira, início de seu segundo mandato. Um no Congresso, quando jurar pela segunda vez cumprir a Constituição. Outro no parlatório, se não estiver chovendo, ou no salão de recepções do palácio do Planalto.
Houve tempo em que os pronunciamentos dos presidentes da República despertavam as atenções gerais, quando de suas posses. Novos sistemas ou pelo menos novos personagens empolgavam ou desanimavam o país. Agora, será o mais do mesmo. Dilma não terá nada a anunciar em termos de mudanças capazes de sensibilizar a população. Sem o carisma de alguns antecessores, cumprirá apenas a rotina. Por certo terá palavras de otimismo quanto ao futuro, mesmo fazendo referências à necessidade de sacrifícios. É provável que fale da reforma política, ainda que sem muitos detalhes. Assim como da importância de a economia ser agilizada.
Ninguém deve esperar que prometa acabar com o latifúndio, muito pelo contrário. Ou que acabará com a farra da remessa de lucros para o estrangeiro. Muito menos que ampliará os direitos trabalhistas, restabelecendo a estabilidade no emprego. Sequer a participação dos empregados no lucro das empresas. Transportes públicos gratuitos para quem ganha pouco, nem pensar. Nem extinção dos recursos jurídicos fajutos que tiram os criminosos da cadeia, em especial se dispõem de recursos para movimentar os tribunais.
Em suma, nenhuma proposta daquelas em condições de caracterizar mudanças institucionais, sociais e econômicas. A composição de seu novo ministério, aliás, lamentável, dá bem a medida da pasmaceira que assola o governo e o PT. Ficará no plano das intenções evitar a corrupção, porque nenhuma iniciativa de vulto está prevista para punir com rigor corruptos e corruptores. Falta ao segundo governo Dilma a eloquência das convicções.
No auge dos excessos que marcaram a Revolução dos Cravos, em Portugal, o todo-poderoso do dia, brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, visitou Olof Palme, primeiro-ministro do governo socialista da Suécia. Em dado momento, o governante português anunciou que seu propósito era de acabar com os ricos, em seu país. O sueco, malicioso, retrucou que seu governo tinha objetivo diametralmente oposto: acabar com os pobres…
Carlos Chagas
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