Yber Sarapura é um dos representantes de comunidades indígenas do sul global presente no encontro internacional, organizado pela Comissão Europeia , que reúne empresas, academia, sociedade civil, pesquisa e política em torno das matérias-primas críticas (MPC).
Níquel, cobre, manganês, cobalto, lítio e elementos de terras raras encabeçam a lista dessas matérias-primas, que são críticas devido à sua importância estratégica e econômica, bem como aos riscos em suas cadeias de suprimentos. Desde 2023, quando foi publicada a quinta versão da lista de matérias-primas críticas, Bruxelas firmou acordos com países ricos nesses materiais — Brasil, Chile, Argentina e Peru — para sua extração, visando garantir a transição energética. E agora, esses acordos também se estendem ao fornecimento para a indústria de defesa .
Vinte e três por cento dos elementos de terras raras (compostos por 17 minerais) estão no Brasil. Cinquenta e quatro por cento do lítio está na América do Sul. E as maiores reservas de cobre estão no Chile e no Peru, atualmente o primeiro e o segundo maiores exportadores mundiais.
Por outro lado, a UE precisará de 30% mais cobre e 60% mais lítio até 2050 (a partir de 2020). O interesse em parcerias é evidente. No entanto, é importante lembrar que o rio Trapiche secou em Catamarca; em Cajamarca, os rios apresentam cores diferentes devido aos resíduos minerais em seus leitos; e 1,3 quilômetros quadrados ao redor do Rio Blanco e da geleira Rinconada secaram.
Esses dados — provenientes de relatórios de organizações como a argentina FARN, a peruana CoperAcción e a Fundação Heinrich Böll — lançam uma luz diferente sobre essa cruzada europeia moderna pelas matérias-primas necessárias para supostamente alcançar um mundo mais verde.
No entanto, as comunidades locais e os ambientalistas estão se concentrando em um elemento que recebeu pouca atenção na conferência de Bruxelas: a água e o impacto de sua escassez na vida. Porque, entretanto, já é sabido: apesar de toda a inovação tecnológica em sua extração, a indústria de mineração requer água — muita água.
Vale ressaltar que representantes de instituições europeias afirmam o respeito aos direitos humanos, os mecanismos voluntários de diligência devida, o compromisso com a sustentabilidade e o progresso na indústria da reciclagem. Ao mesmo tempo, consideram essas matérias-primas essenciais, que em sua maioria se encontram fora da Europa, indispensáveis para a independência energética e a competitividade europeia na atual corrida geopolítica.
"Para quem esses minerais são essenciais? Para a indústria de mobilidade pessoal?", questiona Laura Castillo, pesquisadora da FARN. "Para as populações nos territórios onde o lítio é encontrado, a situação crítica é a dos pântanos andinos, zonas áridas já sob pressão das mudanças climáticas. Chove muito pouco e a quantidade de água perdida por evaporação é maior do que a que entra no sistema", afirma.
Além de questionar o hiperconsumo das sociedades do "norte global", o especialista da FARN destaca a necessidade de aplicar ferramentas já existentes, como a avaliação ambiental estratégica, para planejar o território e isentar ecossistemas sensíveis da extração.
Nesse sentido, segundo fontes oficiais, o atual governo chileno tomou medidas para proteger 30% dos salares do país, onde não haverá extração de lítio. Além disso, no Chile, o lítio não é um mineral sujeito a concessão; o presidente concede o direito de extraí-lo por meio de licitação pública, após consulta às comunidades afetadas.
Representantes da Coligação Europeia de Matérias-Primas, uma plataforma de ONGs europeias que lidam com os impactos de projetos extrativistas, estão apresentando uma proposta semelhante a Bruxelas: que sejam determinadas "zonas proibidas", que seja realizada uma consulta prévia e que, em caso de consentimento, ou "licença social", seja acordada a partilha dos lucros.
Medo devido a experiências passadas
"O medo da escassez de água é o principal fator de oposição e de conflitos com a mineração", explica Johanna Sydow, chefe da divisão de política ambiental internacional da Fundação Heinrich Böll.
"Por um lado, são feitos estudos de impacto para cada projeto, sem levar em conta o valor cumulativo da escassez de água. Por outro lado, os governos continuam a baixar os padrões de proteção ambiental, deixando as pessoas desprotegidas. No Peru, na Sérvia e em Gana, mesmo recebendo água da mineradora, as pessoas têm que beber água contaminada", destaca Johanna Sydow.
Assim, em meio a painéis e debates sobre alta tecnologia para recuperação de lítio de baterias, mobilidade com emissão zero, tecnologia aeroespacial e visões de um futuro sustentável, Iber Sarapura apresenta o caso de Salinas Grandes e da Lagoa de Guayatayoc.
"É difícil dialogar com as mineradoras. Elas usam qualquer foto nossa como pré-consulta. Não usam nosso documento KachiYupi, 'as pegadas de sal', para nos consultar", aponta o líder comunitário. Ofereceram realocação ou outros benefícios? "Não queremos dinheiro, nem terras. Este território é nosso desde antes do Estado argentino, que busca qualquer forma de se livrar de nós. Nossa resposta é não", conclui.

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