Em relação às guerras, sabe-se que, ao longo do tempo, elas se manifestaram de formas distintas. Na Antiguidade, reis e imperadores comandavam tropas compostas por soldados profissionais, mercenários contratados e grupos de civis. Na Idade Média, os cavaleiros – guerreiros montados, seguidores de um código de ética – apareciam como os grandes protagonistas, seguidos por fileiras de soldados a pé, mercenários e agrupamentos de camponeses. Na Modernidade, as forças armadas nacionais emergiram como os principais atores das hostilidades extensivas, travadas em inúmeras batalhas e campanhas. Já no período contemporâneo, os conflitos envolvem Estados, governos, sociedades, grupos paramilitares, exércitos privados, insurgentes e milicianos.
Um conjunto de fatores tem sido responsável pelo surgimento das guerras. Dentre eles podem ser citados a disputa pelo poder, isto é, grupos que almejam o controle do Estado ou grandes potências que visam obter a liderança de uma região ou do mundo; o interesse econômico que agrega a fruição de bens, riquezas, recursos estratégicos, a obtenção de territórios, o domínio de mercados e a aniquilação de competidores rivais; a imposição ideológica muitas vezes causadora da exterminação cultural de um grupo ou povo e as rivalidades étnicas e religiosas que podem provocar o extermínio de conjuntos populacionais.
É do conhecimento geral que as guerras têm permeado a história humana desde épocas remotas até os dias que correm. A lista delas aponta que há mais de 2.500 anos antes de Cristo até a presente data ocorreram muitas dezenas de conflagrações, além de múltiplas outras que continuam em andamento na atualidade. Dentre as mesmas emergiram as de curta duração como a das Malvinas entre Reino Unido e Argentina que durou dez semanas, as de média duração como a da Coreia do Norte contra a do Sul que se estendeu por quatro anos e as de longa duração como a dos Cem Anos entre França e Inglaterra. Apareceram também as que mais provocaram mortes tais como a Segunda Guerra Mundial com mais de setenta milhões, a dos Três Reinos na China com aproximadamente 36 milhões e a Sino-Japonesa com vinte milhões de falecidos.
Além da extensão e da letalidade, existem outros critérios classificatórios, como o desenvolvimento da conflagração, a intensidade do confronto, a abrangência do conflito, as causas do embate e as armas estratégicas utilizadas na contenda. Uma classificação amplamente aceita e utilizada é aquela baseada no critério da sucessividade, composta por cinco categorias: primeira, segunda, terceira, quarta e quinta gerações. Observa-se que as guerras de segunda e terceira gerações podem ser consideradas modernas, enquanto as de quarta e quinta são vistas como pós-modernas, segundo estudiosos do tema.
Entretanto, qualquer uma dessa guerras acarreta outros efeitos sociais negativos afora o número de óbitos, os quais tendem a perdurar por muito tempo e comprometer diversas gerações. Podem ser mencionados o deslocamento de contingentes populacionais, a fragmentação de comunidades, o aumento da violência e da criminalidade, a destruição de infraestrutura essencial, o exacerbamento da pobreza e da desigualdade social, o comprometimento educacional do povo, a violação de direitos humanos e a estigmatização e discriminação de grupos envolvidos. Agregue-se a este rol os elevadíssimos gastos financeiros das contendas. Apenas para ilustrar, estima-se que a reconstrução da Ucrânia após a conflagração com a Rússia deverá custar aproximadamente 1 trilhão de dólares.
Por sua vez, muitos indivíduos poderão ser afetados pelo denominado transtorno de estresse pós-traumático que atinge cerca de 20% do conjunto de pessoas que testemunharam ou vivenciaram um evento chocante e provocador de ferimentos e ameaças de morte. De um lado tem-se os veteranos de guerra, que sofrem com sonhos angustiantes, sentimento de culpa, dificuldades de concentração e surtos de irritabilidade. Do outro tem-se o impacto na saúde mental da população, haja vista que uma grande proporção de indivíduos desenvolve vários tipos de comportamentos que atrapalham seus atos diários tais como depressão, ansiedade e insônia.
Apesar dessas nefandas consequências deve ser lembrado que as guerras proporcionam repudiáveis vantagens ao desenvolvimento econômico. Além das obras de restauro, aparecem o estímulo à indústria de equipamentos militares e de armas que lucrou 12 bilhões de euros em 2022, a inovação tecnológica, os contratos governamentais com empresas privadas envolvedores de somas elevadas, a obtenção do controle de recursos naturais valiosos, a mobilização da força de trabalho com a redistribuição de empregos e recursos humanos e o impulso ao consumo e à produção interna devido ao possível incremento do nacionalismo.
Parece indubitável que a grande maioria das pessoas deve ser favorável à proposta do término das guerras por causa dos efeitos perversos que exibem. Entrementes, há muita gente visceralmente contra às mesmas que considera utópica a possibilidade de eliminá-las da vida em sociedade. Acreditam que é uma suposição imaginária, de natureza irrealizável e de acordo com a concepção original de utopia, isto é, a descrição de uma sociedade quimérica possuidora de peculiaridades altamente almejáveis, quase perfeita para a convivência entre pessoas, onde ocorre o desfrute da liberdade individual com respeito aos direitos dos outros, a aceitação e a valorização da diversidade e da inclusão, o império da justiça social garantidor dos recursos e serviços básicos e o predomínio da harmonia social, ou seja, o respeito, a empatia e a colaboração entre todos os membros da coletividade.
Existem outros motivos da descrença. A força do realismo pragmático induz os indivíduos focarem seus empenhos em soluções práticas e imediatas. O medo às mudanças de relevo tende a causar resistências. Aparece desconfiança aos ideais quiméricos se advindos de uma possível associação com regimes políticos totalitários. A formulação das utopias por grupos sociais específicos inclina-se a fortalecer a crença do não atendimento a todos os segmentos da sociedade. As questões utópicas podem parecer muito distantes dos problemas enfrentados no presente. A multiplicidade de utopias que falharam nas tentativas de implementação resulta em desilusão e ceticismo.
Esquecem, entretanto, que ideias utópicas podem vir a se materializar haja vista que várias delas já se concretizaram. A história registra que algumas comunidades conseguiram se estabelecer e funcionar a contento com base em valores específicos assumidos pelos seus integrantes tais como os Quakers, os Shakers e os Amish. Países escandinavos como Suécia, Noruega e Dinamarca possuem sistemas de bem-estar social robustos, altos níveis de igualdade, acesso universal à saúde e educação e proeminente qualidade de vida. Propostas como as cidades-jardim idealizadas por Ebenezer Howard no século passado, destinadas à vivência harmônica entre pessoas e natureza, influenciaram o planejamento urbano em vários recantos do planeta, promovendo a integração entre áreas rurais e urbanas, incremento de espaços verdes e aparecimento de comunidades sustentáveis. A denominada sociedade digital oferecedora de tecnologia para promover a colaboração e a inclusão está se estabelecendo de forma célere com o advento de plataformas de coadjuvação, redes sociais e iniciativas de código aberto.
É importante realçar que estas concepções não se transformaram em realidade de maneira rápida. E só se tornaram viáveis porque foram mantidas no decorrer do tempo, permaneceram vivas, se conservaram em estado de potência, persistiram acalentadas. Infere-se, portanto, que a criação e o cultivo de ideias utópicas, por si mesmas, são fundamentais para o possível advento de modificações na vida em sociedade em momentos oportunos.
Ademais, elas são dotadas de um significativo poder para instigar críticas, inspirar ações e mobilizar as pessoas com base em visões do futuro. Possuem então um elevado valor político. De fato, as abstrações imaginosas funcionam como uma fonte de esperança, motivação e incentivo às pugnas relativas a mudanças na sociedade; ajudam a feitura de questionamentos a determinadas circunstâncias evidenciando falhas e injustiças; estimulam o debate sobre valores e ética na vida comunitária; auxiliam na construção de narrativas voltadas para a construção de políticas sustentáveis e inclusivas; tendem a enriquecer o discurso político pela abertura de espaço à pluralidade de ideias.
Este valor político já foi devidamente testado. Veja-se o caso do Manifesto Comunista, de 1848, escrito por Marx e Engels. Ele inspirou uma série de revoluções na Europa conhecida como a Primavera dos Povos, exigente de direitos democráticos e reformas sociais. Levou os bolcheviques liderados por Lenin a derrubarem o governo da época e estabelecerem o regime comunista. Incitou movimentos trabalhistas nos séculos XIX e XX em várias partes do continente europeu e da América do Norte promovendo a luta por direitos trabalhistas e melhores condições de vida. Inspirou movimentos sociais e revoluções na América Latina, tal como a cubana liderada por Castro e Guevara. Influenciou países africanos e asiáticos na luta contra o colonialismo, especialmente em Angola e Vietnã.
Outras proposituras utópicas contribuíram para a ocorrência de mudanças sociais. Os instauradores da Comuna de Paris em 1871 colocaram em prática o recurso da autogestão e o respeito aos direitos dos trabalhadores os quais influenciaram movimentos socialistas e comunistas em várias partes do mundo. O socialismo de Fourier assentado nos falanstérios, coletividades autossuficientes promotoras da igualdade e harmonia social, infundiram diversas experiências comunitárias e ações cooperativas no decorrer dos últimos dois séculos. O projeto da Aldeia de Auroville em 1968 na Índia, uma espécie de comunidade internacional, é voltado para a busca da paz entre pessoas de diferentes origens e culturas. A Ecovila de Findhorn na Escócia busca a concretização de uma vida sustentável, a proteção do ambiente e o estabelecimento de relações sociais mais justas e colaborativas. O movimento feminista assentado na igualdade entre homens e mulheres está conseguindo estipular direitos reprodutivos e paridade no local de trabalho.
Dada sua elevada importância, infere-se que o pensamento utópico deve ser devidamente cultivado pelos indivíduos — tanto no âmbito da educação formal quanto da informal —, sendo possível recorrer a diversas estratégias para esse fim. A título de ilustração, podem ser mencionadas: a análise de iniciativas comunitárias bem-sucedidas, a criação de cenários futuros, a capacitação de pessoas para que se sintam aptas a promover mudanças, a formação de redes de apoio entre aqueles que compartilham visões alternativas, a realização de debates sobre questões sociais e políticas, e a reflexão crítica sobre as realidades atuais e as possibilidades de sua transformação.
Exclusive esta sugestão educacional cabe continuar a análise do tema do fim das guerras, relembrando seu caráter utópico conforme anteriormente mencionado. Porém, é preciso ir além do que foi aludido porquanto existem outras razões que alimentam esse caráter. Uma quantidade elevada de pessoas acredita que a violência é uma parte inevitável da natureza humana. O lucro proveniente da indústria bélica pode dificultar a busca por soluções pacíficas. Diferenças culturais, religiosas e ideológicas tendem a tornar desafiadora a construção de uma paz duradoura. A predominância de desigualdades e injustiças atrapalha o estabelecimento da concórdia. Rivalidades e desconfiança persistentes entre países podem perpetuar a ideia da inevitabilidade dos conflitos. A percepção de ameaças globais inclina-se a gerar uma mentalidade de defesa por meio de conflagrações.
Sem dúvida, essa intelecção quimérica, majoritária e profundamente arraigada, configura-se como um dos maiores óbices à consolidação da conciliação e à tentativa de pôr fim às guerras. Entrementes, há numerosas pessoas empenhadas em impedir e encerrar os conflitos, pois acreditam firmemente nessa possibilidade. Destaca-se, nesse contexto, o esforço dos integrantes da ONU voltado à prevenção da eclosão de confrontos bélicos. Vale ressaltar que a organização desempenhou um papel de grande relevância na contenção de certos conflitos, como na mediação da crise dos mísseis de Cuba, em 1962, entre Estados Unidos e União Soviética; na arbitragem entre as Coreias do Norte e do Sul, entre 1950 e 1953; e na atuação diante da delicada situação entre Geórgia e Rússia, em 2008.
Também atuou de modo eficaz contra o agravamento e a escalada de prélios. Em 1965, facilitou a ocorrência de um cessar-fogo entre a Índia e o Paquistão e outro, em 1973, na guerra do Yom Kipur envolvendo egípcios, sírios e israelenses. Prevenção da escalada de tensões entre Libéria e Serra Leoa na última década do século passado. Estabilização da Libéria em 2003, após anos de guerra civil, por meio de um acordo de paz e realização de eleições democráticas. Acordo de Paz de Ouagadougou, em 2007, durante a guerra civil na Costa do Marfim. Libertação do Kuwait junto ao fim do conflito com o Iraque nos anos de 1990 e 1991. Promoção do processo de paz na guerra civil de El Salvador entre 1980 e 1992.
Pessoas comuns e não apenas os membros da ONU também podem com vislumbre de êxito, atuarem contra, evitarem o exacerbamento e a ascendência das contendas violentas. Essa tarefa tem cabido aos denominados cidadãos ativos ou civicamente engajados. São indivíduos que abandonam a rotina e o conforto da esfera privada, isto é, do trabalho e da família, para exercerem atividades no espaço público, tais como ruas, praças, meios de comunicação e redes sociais, em defesa não só de seus interesses, mas, principalmente, em benefício das coletividades local, nacional e internacional, por meio do trabalho voluntário, atos de boicote, campanhas filantrópicas e muitas outras ações mobilizadoras.
Ressalte-se que a prática da cidadania ativa encontra respaldo em distintas ideologias políticas, mesmo quando divergentes entre si. O liberalismo, embora incline-se fortemente para a democracia representativa, também a contempla no âmbito da democracia direta, por meio de instrumentos como plebiscitos, referendos, projetos de iniciativa popular e o recall de mandatos. O comunitarismo valoriza o trabalho voluntário, as campanhas de sensibilização e as ações filantrópicas em nível local. Já os defensores da democracia radical enfatizam a atuação dos movimentos sociais, voltados à promoção de transformações diversas no interior da sociedade. Por sua vez, os seguidores do marxismo tendem a favorecer a democracia participativa como meio de controle popular sobre os governantes e como estratégia para a instauração do socialismo.
Dentre os recursos disponíveis aos cidadãos ativos destacam-se os movimentos sociais, ou seja, as ações conjuntas sustentadas por grupos organizados da sociedade que pugnam por diversas causas tais como a paridade entre homens e mulheres, a defesa do meio ambiente e o direito à terra. Esses expressivos e longevos movimentos que emergem em resposta a insatisfações e demandas de grupos existentes na coletividade mais ampla podem apresentar uma organização formal ou espontânea, serem dotados de estruturas hierárquicas ou descentralizadas, perdurarem ou se desfazerem no decorrer do tempo. Entretanto, os mesmos se revelam como expedientes poderosos de mudança e de resistência.
Uma enorme quantidade de movimentos sociais já se manifestou no passado e continua ocorrendo no presente em todas as partes do mundo. Na atualidade, existem alguns que se revelam como os mais importantes e persistentes. O Black Lives Matter, nos Estados Unidos que luta contra a violência e o racismo sistêmico enfrentados por pessoas negras tem estimulado protestos em inúmeras nações. O LGBTQIA+ busca direitos iguais e aceitação para indivíduos de todas as orientações sexuais e identidades de gênero. O Fridays For Future, mantêm o foco na pugna das mudanças climáticas. Organizações de povos originários lutam contra a exploração de suas terras e buscam maior reconhecimento e respeito por suas tradições. Grupos antifascistas agem em resposta ao aumento da extrema direita com suas rejeitáveis ideologias.
Muitos movimentos sociais se mostraram exitosos, pois alcançaram os objetivos pretendidos. O favorável aos direitos civis nos Estados Unidos na década de cinquenta do século passado, liderados por Luther King e Rosa Parks, foi contra a segregação racial e culminou na aprovação da Lei dos Direitos Civis e da Lei de Direito ao Voto, que garantiram direitos iguais para todos os cidadãos estadunidenses. A partir do início do século XX, grupos feministas foram conseguindo relevantes conquistas como o direito ao voto, o acesso à educação e ao mercado de trabalho e a diminuição das diferenças salariais com os homens, inclusive em países desfavoráveis às mulheres, como a Arábia Saudita onde elas estão cada vez mais presentes nos setores da educação, saúde, finanças, diplomacia e forças armadas. Agrupamentos combatentes da corrupção no Brasil contribuíram significativamente para a emergência da Operação Lava Jato a qual trouxe à tona escândalos de deperecimento que afetavam a política e a economia do país e a mobilização da sociedade civil bem como a pressão popular resultaram em mudanças na legislação sobre ela.
Especificamente em relação às guerras sabe-se que vários deles apresentaram efetividade. Alguns frearam o possível surgimento delas. A mobilização Anti-Apartheid na África do Sul, assentada na resistência pacífica e na desobediência civil, liderada por Mandela e Tutu ajudaram bastante a acabar com o apartheid sem uma guerra civil em larga escala. As manifestações pacifistas na Europa durante os anos sessenta e setenta do século passado, lapso da guerra fria, contra a proliferação nuclear e a militarização contribuíram muito para evitar um conflito nuclear. O Movimento de Independência da Índia na década de 1940, sob o comando de Gandhi e pautado na bandeira da não-violência contra o colonialismo britânico impediu a emergência de um confronto armado de elevada proporção.
Outros impediram o andamento e favoreceram o desenlace delas. Nos estados Unidos, a oposição à Guerra do Vietnã cresceu significativamente na década de 1960 e início de 1970. Agregados de ativistas, estudantes, veteranos de guerra e cidadãos comuns realizaram protestos em massa, marchas e outras ações em diversas cidades envolvendo milhares de pessoas. A constante divulgação de informações sobre os bombardeios, as mortes de civis e os demais horrores da conflagração contribuiu bastante para a formação de uma opinião pública contrária à intervenção militar. Por sua vez o aumento da pressão levou a uma mudança na postura de políticos e militares que resolveram reduzir o número de soldados em combate e, posteriormente, tomaram a decisão de proclamar seu término.
A Guerra de Kosovo em fins da década de noventa colocou em ação organizações não governamentais e grupos de direitos humanos que mobilizaram a opinião pública mundial. Denunciaram a violação de direitos humanos e a limpeza étnica, as quais foram decisivas na geração de pressões sobre governos e organismos internacionais. Outras manifestações como o apoio humanitário favorável à promoção da paz, a realização de fóruns e conferências buscadores de soluções diplomáticas, as propostas de reconciliação entre as comunidades sérvias e albanesas e as exigências de justiça para as vítimas de crimes de guerra se integraram às anteriores e acorreram o desfecho do conflito.
Outrossim, existem aqueles que caminham de forma paralela em apoio e revigoramento às exteriorizações contra a guerra. As vultosas e persistentes mobilizações benfazejas ao desarmamento merecem ser citadas. O Control Arms Coalition, uma liga global sediada nos Estados Unidos, inclui múltiplas organizações da sociedade civil e trabalha para propiciar o controle de armas em nível internacional. A Ceasfire Campaign, do Reino Unido, busca ativar a opinião pública e influenciar políticas para reduzir a prática da violência com armas visando garantir a segurança comunitária. Precisam ser mencionadas também os favoráveis à paz. Na Síria, grupos de ativistas tentam promover soluções pacíficas e diálogos intercomunitários, buscando evitar uma escalada do conflito e facilitar a reconciliação. A Liga Internacional de Mulheres Pela Paz e liberdade persiste lutando por liberdades políticas, econômicas e sociais, direitos das mulheres, justiça racial e supressão das armas no mundo.
Observe-se que a real possibilidade do encerramento das guerras traz consigo o factível ocaso das forças armadas. A esse respeito vale recordar que há alguns séculos elas começaram a surgir junto com o aparecimento dos estados nacionais com a finalidade essencial de defendê-los pelo uso da violência. Com o passar do tempo e por causa do irrefreável processo de civilização, se sujeitaram e continuam se sujeitando à uma série de mudanças a partir de sua configuração original. No momento estão enfrentando o curso de um salto qualitativo rumo a uma organização agregada, isto é composta por humanos e robôs. Em seguida deverão encarar outro salto qualitativo que as transformarão em uma legião de androides de aparência humana movidos pela inteligência artificial. A manifestação dos confrontos circunscritos aos batalhões de autômatos poderá favorecer o surgimento de uma gigantesca falange de cidadãos ativos firmemente comprometidos com a efetiva e ininterrupta situação de paz em todos os recantos do planeta.
Ademais, cabe acrescentar que este segundo salto qualitativo tende a se revelar como o último momento da guerra cinética tal como vem se manifestando. Veja-se que as operações psicológicas, eletrônicas, cibernéticas e econômicas se encontram em andamento. Entretanto, uma outra forma de conflagração poderá aparecer, qual seja, a realizada no metaverso, isto é, o universo pós-realidade, o ambiente multiusuário perpétuo e persistente que funde o mundo físico com a simulação digital, a convergência das dimensões concreta e virtual. Com efeito, se a tecnologia continuar sua pujante trajetória atual e as pessoas viverem muito tempo de suas vidas no metaverso as pugnas poderão se estender para ele envolvendo as operações mencionadas como um sexto e talvez o derradeiro domínio, pois o primeiro foi a terra, o segundo a água, o terceiro o ar, o quarto o espaço e o quinto o ciberespaço.
Antônio Carlos Will Ludwig
Pessoas comuns e não apenas os membros da ONU também podem com vislumbre de êxito, atuarem contra, evitarem o exacerbamento e a ascendência das contendas violentas. Essa tarefa tem cabido aos denominados cidadãos ativos ou civicamente engajados. São indivíduos que abandonam a rotina e o conforto da esfera privada, isto é, do trabalho e da família, para exercerem atividades no espaço público, tais como ruas, praças, meios de comunicação e redes sociais, em defesa não só de seus interesses, mas, principalmente, em benefício das coletividades local, nacional e internacional, por meio do trabalho voluntário, atos de boicote, campanhas filantrópicas e muitas outras ações mobilizadoras.
Ressalte-se que a prática da cidadania ativa encontra respaldo em distintas ideologias políticas, mesmo quando divergentes entre si. O liberalismo, embora incline-se fortemente para a democracia representativa, também a contempla no âmbito da democracia direta, por meio de instrumentos como plebiscitos, referendos, projetos de iniciativa popular e o recall de mandatos. O comunitarismo valoriza o trabalho voluntário, as campanhas de sensibilização e as ações filantrópicas em nível local. Já os defensores da democracia radical enfatizam a atuação dos movimentos sociais, voltados à promoção de transformações diversas no interior da sociedade. Por sua vez, os seguidores do marxismo tendem a favorecer a democracia participativa como meio de controle popular sobre os governantes e como estratégia para a instauração do socialismo.
Dentre os recursos disponíveis aos cidadãos ativos destacam-se os movimentos sociais, ou seja, as ações conjuntas sustentadas por grupos organizados da sociedade que pugnam por diversas causas tais como a paridade entre homens e mulheres, a defesa do meio ambiente e o direito à terra. Esses expressivos e longevos movimentos que emergem em resposta a insatisfações e demandas de grupos existentes na coletividade mais ampla podem apresentar uma organização formal ou espontânea, serem dotados de estruturas hierárquicas ou descentralizadas, perdurarem ou se desfazerem no decorrer do tempo. Entretanto, os mesmos se revelam como expedientes poderosos de mudança e de resistência.
Uma enorme quantidade de movimentos sociais já se manifestou no passado e continua ocorrendo no presente em todas as partes do mundo. Na atualidade, existem alguns que se revelam como os mais importantes e persistentes. O Black Lives Matter, nos Estados Unidos que luta contra a violência e o racismo sistêmico enfrentados por pessoas negras tem estimulado protestos em inúmeras nações. O LGBTQIA+ busca direitos iguais e aceitação para indivíduos de todas as orientações sexuais e identidades de gênero. O Fridays For Future, mantêm o foco na pugna das mudanças climáticas. Organizações de povos originários lutam contra a exploração de suas terras e buscam maior reconhecimento e respeito por suas tradições. Grupos antifascistas agem em resposta ao aumento da extrema direita com suas rejeitáveis ideologias.
Muitos movimentos sociais se mostraram exitosos, pois alcançaram os objetivos pretendidos. O favorável aos direitos civis nos Estados Unidos na década de cinquenta do século passado, liderados por Luther King e Rosa Parks, foi contra a segregação racial e culminou na aprovação da Lei dos Direitos Civis e da Lei de Direito ao Voto, que garantiram direitos iguais para todos os cidadãos estadunidenses. A partir do início do século XX, grupos feministas foram conseguindo relevantes conquistas como o direito ao voto, o acesso à educação e ao mercado de trabalho e a diminuição das diferenças salariais com os homens, inclusive em países desfavoráveis às mulheres, como a Arábia Saudita onde elas estão cada vez mais presentes nos setores da educação, saúde, finanças, diplomacia e forças armadas. Agrupamentos combatentes da corrupção no Brasil contribuíram significativamente para a emergência da Operação Lava Jato a qual trouxe à tona escândalos de deperecimento que afetavam a política e a economia do país e a mobilização da sociedade civil bem como a pressão popular resultaram em mudanças na legislação sobre ela.
Especificamente em relação às guerras sabe-se que vários deles apresentaram efetividade. Alguns frearam o possível surgimento delas. A mobilização Anti-Apartheid na África do Sul, assentada na resistência pacífica e na desobediência civil, liderada por Mandela e Tutu ajudaram bastante a acabar com o apartheid sem uma guerra civil em larga escala. As manifestações pacifistas na Europa durante os anos sessenta e setenta do século passado, lapso da guerra fria, contra a proliferação nuclear e a militarização contribuíram muito para evitar um conflito nuclear. O Movimento de Independência da Índia na década de 1940, sob o comando de Gandhi e pautado na bandeira da não-violência contra o colonialismo britânico impediu a emergência de um confronto armado de elevada proporção.
Outros impediram o andamento e favoreceram o desenlace delas. Nos estados Unidos, a oposição à Guerra do Vietnã cresceu significativamente na década de 1960 e início de 1970. Agregados de ativistas, estudantes, veteranos de guerra e cidadãos comuns realizaram protestos em massa, marchas e outras ações em diversas cidades envolvendo milhares de pessoas. A constante divulgação de informações sobre os bombardeios, as mortes de civis e os demais horrores da conflagração contribuiu bastante para a formação de uma opinião pública contrária à intervenção militar. Por sua vez o aumento da pressão levou a uma mudança na postura de políticos e militares que resolveram reduzir o número de soldados em combate e, posteriormente, tomaram a decisão de proclamar seu término.
A Guerra de Kosovo em fins da década de noventa colocou em ação organizações não governamentais e grupos de direitos humanos que mobilizaram a opinião pública mundial. Denunciaram a violação de direitos humanos e a limpeza étnica, as quais foram decisivas na geração de pressões sobre governos e organismos internacionais. Outras manifestações como o apoio humanitário favorável à promoção da paz, a realização de fóruns e conferências buscadores de soluções diplomáticas, as propostas de reconciliação entre as comunidades sérvias e albanesas e as exigências de justiça para as vítimas de crimes de guerra se integraram às anteriores e acorreram o desfecho do conflito.
Outrossim, existem aqueles que caminham de forma paralela em apoio e revigoramento às exteriorizações contra a guerra. As vultosas e persistentes mobilizações benfazejas ao desarmamento merecem ser citadas. O Control Arms Coalition, uma liga global sediada nos Estados Unidos, inclui múltiplas organizações da sociedade civil e trabalha para propiciar o controle de armas em nível internacional. A Ceasfire Campaign, do Reino Unido, busca ativar a opinião pública e influenciar políticas para reduzir a prática da violência com armas visando garantir a segurança comunitária. Precisam ser mencionadas também os favoráveis à paz. Na Síria, grupos de ativistas tentam promover soluções pacíficas e diálogos intercomunitários, buscando evitar uma escalada do conflito e facilitar a reconciliação. A Liga Internacional de Mulheres Pela Paz e liberdade persiste lutando por liberdades políticas, econômicas e sociais, direitos das mulheres, justiça racial e supressão das armas no mundo.
Observe-se que a real possibilidade do encerramento das guerras traz consigo o factível ocaso das forças armadas. A esse respeito vale recordar que há alguns séculos elas começaram a surgir junto com o aparecimento dos estados nacionais com a finalidade essencial de defendê-los pelo uso da violência. Com o passar do tempo e por causa do irrefreável processo de civilização, se sujeitaram e continuam se sujeitando à uma série de mudanças a partir de sua configuração original. No momento estão enfrentando o curso de um salto qualitativo rumo a uma organização agregada, isto é composta por humanos e robôs. Em seguida deverão encarar outro salto qualitativo que as transformarão em uma legião de androides de aparência humana movidos pela inteligência artificial. A manifestação dos confrontos circunscritos aos batalhões de autômatos poderá favorecer o surgimento de uma gigantesca falange de cidadãos ativos firmemente comprometidos com a efetiva e ininterrupta situação de paz em todos os recantos do planeta.
Ademais, cabe acrescentar que este segundo salto qualitativo tende a se revelar como o último momento da guerra cinética tal como vem se manifestando. Veja-se que as operações psicológicas, eletrônicas, cibernéticas e econômicas se encontram em andamento. Entretanto, uma outra forma de conflagração poderá aparecer, qual seja, a realizada no metaverso, isto é, o universo pós-realidade, o ambiente multiusuário perpétuo e persistente que funde o mundo físico com a simulação digital, a convergência das dimensões concreta e virtual. Com efeito, se a tecnologia continuar sua pujante trajetória atual e as pessoas viverem muito tempo de suas vidas no metaverso as pugnas poderão se estender para ele envolvendo as operações mencionadas como um sexto e talvez o derradeiro domínio, pois o primeiro foi a terra, o segundo a água, o terceiro o ar, o quarto o espaço e o quinto o ciberespaço.
Antônio Carlos Will Ludwig

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