Os homens do ressentimento se escondem atrás da moral e da religião, realizam uma inversão dos valores para se colocarem como “bons”. As manifestações do último dia 03 de agosto se mostraram um exemplo disso: manifestações de ressentidos. Como diria Nietzsche, foi uma manifestação de ódio da impotência contra a potência e a competência. Lembremo-nos que, na filosofia aristotélica, a potência é movimento, mudança e transformação, enquanto a impotência é mesmice, conformação e estagnação.
Os discursos dos que protagonizaram os atos provam isso. Um diz, em relação a Alexandre de Morais: “Eu posso usar cartão de crédito, posso usar rede social e também posso usar pente de cabelo”. No mínimo um comentário tosco e medíocre. Outra diz, em relação ao presidente Lula: “Cachaceiro sem vergonha”. Eu perguntaria: E daí? No mais, foram palavras de ordem a favor da anistia, da prisão de Moraes, do impeachment de Lula, mais ameaças a Moraes, aos presidentes da câmara e do senado, ou seja, discursos de ressentimento. Nesse ínterim, o ministro Alexandre de Moraes é o principal alvo de ódio, no entanto, a psicanálise nos ensina que o excesso de ódio sempre revela também um desejo.
Segundo Maria Rita Kehl, em seu livro Ressentimento, o indivíduo que sofre deste sentimento estabelece uma relação de dependência infantil com o outro. O que se revela em uma dependência que foi a tônica dos discursos, manifestando-se em elogios a figuras como Trump e Musk, ou a tudo que é externo. Esse elogio ao grande ‘Outro’ acaba por apequenar o “Eu”. Ademais, a fixação em figuras como Lula e Alexandre de Moraes, revelam quase como um ódio edipiano: odeia-se aqueles dignos de admiração, o que revela minha incapacidade de ser como eles.
Essas manifestações não revelaram força, não representaram o povo e nem defenderam o país. Ao contrário, mostraram o medo dos ressentidos e a fraqueza dos impotentes. Revelaram também uma vontade de potência que busca alienar com palavras de ordem e um clamor vazio por liberdade, esquecendo que a liberdade implica sempre em responsabilidade. No entanto, as manifestações ilustram o espírito da política dos novos tempos, em que temos menos estadistas e mais caricaturas ressentidas na arena pública, sem nenhum compromisso legítimo com o país.
Aldineto Miranda Santos

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